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O sindicalista Fignolé St. Cyr vai solicitar terça-feira (29) em audiência com a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que o Brasil retire suas tropas do Haiti.
O país comanda desde 2004 a Minustah, uma missão de estabilização autorizada pela Organização das Nações Unidas (ONU). “As tropas da ONU estão no Haiti para reprimir manifestações populares. Essa presença das tropas torna cada vez mais debilitadas as autoridades haitianas”, reclama Fignolé, secretário-geral da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH).
O sindicalista Fignolé St. Cyr
O sindicalista está no Brasil a convite de deputados petistas, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de alguns movimentos populares que se opõem à presença militar no Haiti. Em conversa com jornalistas nesta segunda-feira (28), Fignolé enumerou as razões para pedir a saída da Minustah.
“O problema haitiano é de desenvolvimento, e não de segurança. Nunca tivemos problemas graves de violência.” Ele considera que a própria motivação dos trabalhos é equivocada, uma vez que teve início logo após a derrubada do presidente Jean-Bertrand Aristide, que acusa os Estados Unidos de haverem colaborado para o golpe de Estado. Com isso, foi uma surpresa que o país sofresse uma nova intervenção militar. “Com o passar do tempo, a repulsa à presença das tropas aumentou bastante”, resume Fignolé.
O problema é que surgiram denúncias de estupros de mulheres e de abuso de força por parte de integrantes da Minustah. Além disso, o representante da CATH relata que durante o terremoto do ano passado, as forças de estabilização preocuparam-se em proteger fábricas e propriedades nos bairros de classe alta, ignorando a possibilidade de prestar ajuda humanitária provocada por 3.000 mortes e 1,5 milhão de desabrigados.
“Temos uma polícia nacional. Inclusive a presença das forças da Minustah era justificada pela necessidade de formar a guarda nacional, mas os efetivos policiais não aumentaram”, relata Fignolé. Ele lembra que os custos de manutenção das forças da ONU são altíssimos, formando um quadro desigual em relação aos soldados nacionais, que recebem baixos salários.
A população haitiana acusa ainda que as tropas estrangeiras acabaram trazendo a cólera, que em outubro de 2010 provocou uma epidemia que deixou milhares de mortos e quase cem mil infectados. “Devemos exigir reparação por essa ‘ajuda’ da Minustah. Vou pedir à ministra Maria do Rosário que se assuma essa responsabilidade”, adianta o sindicalista sobre a audiência de terça-feira, na qual aproveitará para expor a visão de que o Brasil acaba sendo utilizado por França, Estados Unidos e Canadá para impor uma agenda política ao povo haitiano.
Os políticos e movimentos sociais que se opõem à Minustah encaminharam carta à presidenta Dilma Rousseff na qual manifestam que o necessário para o país caribenho é o envio de engenheiros, enfermeiros e médicos, e não de militares. “É preciso terminar com a participação do Brasil numa operação militar que é repudiada pela grande maioria do povo haitiano”, manifesta o comunicado, assinado entre outros pelos deputados petistas Adriano Diogo e José Candido, ambos de São Paulo.