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Por
Marcelo Salles
Marcelo Salles
Nossa
América dá sinais, cada vez mais constantes, da necessidade de rever o modelo
de comunicação a que estamos submetidos. Primeiro foi a Venezuela, que
impulsionou a criação de uma televisão multi-estatal, a Telesur, em parceria
com Cuba, Argentina e Uruguai. A medida foi tomada logo após a tentativa de
golpe de Estado contra o presidente Chávez, em 2002 – golpe esse que contou com
apoio decisivo das corporações da mídia privada venezuelana.
América dá sinais, cada vez mais constantes, da necessidade de rever o modelo
de comunicação a que estamos submetidos. Primeiro foi a Venezuela, que
impulsionou a criação de uma televisão multi-estatal, a Telesur, em parceria
com Cuba, Argentina e Uruguai. A medida foi tomada logo após a tentativa de
golpe de Estado contra o presidente Chávez, em 2002 – golpe esse que contou com
apoio decisivo das corporações da mídia privada venezuelana.
Em
2007, o Brasil cria a Empresa Brasileira de Comunicação, que une a Radiobrás e
a TV Educativa do Rio de Janeiro num projeto de comunicação pública – ainda
imperfeito, mas com capacidade suficiente incomodar, a ponto de jornais
neoliberais dedicarem editoriais exigindo o fim da iniciativa.
2007, o Brasil cria a Empresa Brasileira de Comunicação, que une a Radiobrás e
a TV Educativa do Rio de Janeiro num projeto de comunicação pública – ainda
imperfeito, mas com capacidade suficiente incomodar, a ponto de jornais
neoliberais dedicarem editoriais exigindo o fim da iniciativa.
No ano
seguinte foi a vez da Bolívia criar um jornal estatal, El Cambio, de formato
tablóide e preço popular. Inicialmente com 5 mil exemplares, dois anos depois o
jornal boliviano já alcançou o primeiro lugar em vendas e desbancou os
tradicionais La Prensa
e El Razón.
seguinte foi a vez da Bolívia criar um jornal estatal, El Cambio, de formato
tablóide e preço popular. Inicialmente com 5 mil exemplares, dois anos depois o
jornal boliviano já alcançou o primeiro lugar em vendas e desbancou os
tradicionais La Prensa
e El Razón.
A
Argentina enfrenta o monopólio dos grupos privados e o governo Kirchner leva
adiante a Ley de Medios, que atinge duramente as corporações privadas.
Argentina enfrenta o monopólio dos grupos privados e o governo Kirchner leva
adiante a Ley de Medios, que atinge duramente as corporações privadas.
Ainda
no Cone Sul, no último dia 14 de outubro o ministro da Informação e Comunicação
do Paraguai, Augusto dos Santos, anunciou a circulação de um jornal semanal
público para informar a população sobre as políticas do Estado. O nome da
publicação será Infogob, terá alcance nacional e distribuição gratuita.
no Cone Sul, no último dia 14 de outubro o ministro da Informação e Comunicação
do Paraguai, Augusto dos Santos, anunciou a circulação de um jornal semanal
público para informar a população sobre as políticas do Estado. O nome da
publicação será Infogob, terá alcance nacional e distribuição gratuita.
Santos
disse que o objetivo do semanário é divulgar informações das secretarias,
ministérios, entes públicos e demais poderes do Estado a serviço da cidadania.
Segundo o ministro paraguaio, o Infogob apresentará opiniões e pontos de vista
externos ao olhar governamental para que exista um contraste permanente dos
demais, com interesse cidadão.
disse que o objetivo do semanário é divulgar informações das secretarias,
ministérios, entes públicos e demais poderes do Estado a serviço da cidadania.
Segundo o ministro paraguaio, o Infogob apresentará opiniões e pontos de vista
externos ao olhar governamental para que exista um contraste permanente dos
demais, com interesse cidadão.
A
mudança necessária no paradigma das comunicações não pode ter apenas caráter
técnico. As novas ferramentas, as mídias sociais, sites e blogs da Internet são
importantes, mas não são suficientes. As grandes transformações que precisam
acontecer em Nuestra
América necessitam de uma revolução na forma de comunicar.
Não estou falando do momento eleitoral, em que essas ferramentas podem jogar um
papel decisivo. Em termos de mudança de consciência, por exemplo, ou de
erradicação de preconceitos, ou de respeito aos direitos humanos, nada vai
mudar se as corporações privadas de mídia continuarem donas de oligopólios a
serviço da exploração dos povos.
mudança necessária no paradigma das comunicações não pode ter apenas caráter
técnico. As novas ferramentas, as mídias sociais, sites e blogs da Internet são
importantes, mas não são suficientes. As grandes transformações que precisam
acontecer em Nuestra
América necessitam de uma revolução na forma de comunicar.
Não estou falando do momento eleitoral, em que essas ferramentas podem jogar um
papel decisivo. Em termos de mudança de consciência, por exemplo, ou de
erradicação de preconceitos, ou de respeito aos direitos humanos, nada vai
mudar se as corporações privadas de mídia continuarem donas de oligopólios a
serviço da exploração dos povos.
Em
outras palavras: enquanto vigorar a propriedade cruzada – mesmo grupo
controlando jornal, rádio e televisão na mesma praça; enquanto meia dúzia de
empresas capitalistas forem donas de mais de 90% da audiência e da maior parte
das verbas públicas publicitárias; e enquanto esses grupos continuarem, como no
Brasil, a ter mais influência junto aos parlamentares do que os cidadãos que os
elegeram.
outras palavras: enquanto vigorar a propriedade cruzada – mesmo grupo
controlando jornal, rádio e televisão na mesma praça; enquanto meia dúzia de
empresas capitalistas forem donas de mais de 90% da audiência e da maior parte
das verbas públicas publicitárias; e enquanto esses grupos continuarem, como no
Brasil, a ter mais influência junto aos parlamentares do que os cidadãos que os
elegeram.
Democratizar
televisão, rádio e jornais é importante porque a mídia é, hoje, a instituição
com maior poder de produção e reprodução de subjetividades. Ou seja, a mídia
determina formas de sentir, de pensar e de agir dos indivíduos e,
conseqüentemente, influencia posicionamentos da sociedade como um todo. Se
divulga mensagens de ódio, se divulga informações distorcidas, então teremos um
povo irracional e desinformado, caldo de cultura perfeito para a violência. Por
outro lado, se a mídia divulga informações corretas e mensagens de respeito ao
outro, então será mais provável criarmos uma sociedade mais harmônica.
televisão, rádio e jornais é importante porque a mídia é, hoje, a instituição
com maior poder de produção e reprodução de subjetividades. Ou seja, a mídia
determina formas de sentir, de pensar e de agir dos indivíduos e,
conseqüentemente, influencia posicionamentos da sociedade como um todo. Se
divulga mensagens de ódio, se divulga informações distorcidas, então teremos um
povo irracional e desinformado, caldo de cultura perfeito para a violência. Por
outro lado, se a mídia divulga informações corretas e mensagens de respeito ao
outro, então será mais provável criarmos uma sociedade mais harmônica.
O
governo do presidente Lula seguramente avançou mais que o anterior, pois além
da TV Brasil está em curso o Plano Nacional de Banda Larga, que pretende
universalizar o acesso à Internet de alta velocidade. Entretanto, em comparação
com nossos vizinhos, estamos atrasados. O Brasil perdeu sua grande chance com o
decreto da TV Digital, quando era possível ter investido na multi-programação e
fomentado a participação de novos atores no cenário da radiodifusão.
governo do presidente Lula seguramente avançou mais que o anterior, pois além
da TV Brasil está em curso o Plano Nacional de Banda Larga, que pretende
universalizar o acesso à Internet de alta velocidade. Entretanto, em comparação
com nossos vizinhos, estamos atrasados. O Brasil perdeu sua grande chance com o
decreto da TV Digital, quando era possível ter investido na multi-programação e
fomentado a participação de novos atores no cenário da radiodifusão.
Estamos
atrasados não apenas por conta das dificuldades do governo atual. Toda a
esquerda brasileira tem enorme dificuldade de compreender a importância dos
meios de comunicação de massa para a construção de uma sociedade
verdadeiramente democrática. Partidos políticos, estudantes, sindicalistas,
integrantes de movimentos sociais organizados, acadêmicos, artistas. A
tendência ainda é acreditar que se pode negociar com as corporações privadas,
em vez de modificar a atual estrutura – o que, diga-se de passagem, seria
apenas cumprir a Constituição de 1988. A história recente do Brasil nos oferece
incansáveis provas de que essa crença não passa de uma ilusão, incluindo o fato
de as últimas duas eleições terem sido levadas para o segundo turno, sem falar
da famosa manipulação do debate em 1989. Vamos ver se a nossa esquerda acorda,
e se acorda a tempo.
atrasados não apenas por conta das dificuldades do governo atual. Toda a
esquerda brasileira tem enorme dificuldade de compreender a importância dos
meios de comunicação de massa para a construção de uma sociedade
verdadeiramente democrática. Partidos políticos, estudantes, sindicalistas,
integrantes de movimentos sociais organizados, acadêmicos, artistas. A
tendência ainda é acreditar que se pode negociar com as corporações privadas,
em vez de modificar a atual estrutura – o que, diga-se de passagem, seria
apenas cumprir a Constituição de 1988. A história recente do Brasil nos oferece
incansáveis provas de que essa crença não passa de uma ilusão, incluindo o fato
de as últimas duas eleições terem sido levadas para o segundo turno, sem falar
da famosa manipulação do debate em 1989. Vamos ver se a nossa esquerda acorda,
e se acorda a tempo.
*jornalista,
colaborador do www.fazendomedia.com e outros veículos de comunicação
democráticos.
colaborador do www.fazendomedia.com e outros veículos de comunicação
democráticos.