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Eles concentraram-se na oficina mecânica em frente à emissora e ali mesmo, na calçada, tomaram café da manhã com os sindicalistas. Todos pararam livremente, sem qualquer imposição dos colegas. Estavam conscientes de que sem mobilização o salário vergonhoso que recebem não sofreria mudanças. A fina chuva que caiu pela manhã não demoveu os trabalhadores da luta, que levaram em frente, com determinação.
Na última negociação, que havia ocorrido no dia anterior, os patrões ofereceram um reajuste de 7% até janeiro e a partir de então, o percentual seria de 8,76%. A proposta foi recusada pelos trabalhadores, que decidiram intensificar a luta para, assim, conseguir um reajuste maior, que é essencial para a sobrevivência deles. Policiais foram chamados, mas como perceberam que era um movimento pacífico e que ninguém estava sendo impedido de entrar, ficaram apenas observando. Cada vez mais trabalhadores juntavam-se na rua, em frente à emissora.
“Cheguei para trabalhar e estava acontecendo uma manifestação. O pessoal foi parando, todos sabendo de que só assim conseguiremos melhorias para os trabalhadores”, afirmou um funcionário. Para ele, existe muita exploração ao radialista, pois o salário não é suficiente para pagar as despesas básicas. “Somos obrigados a conseguir trabalhos fora da emissora para ajudar a pagar as contas”, completou.
Os radialistas acham que a Campanha Salarial está sendo conduzida de maneira correta. “Faz tempo que eu não vejo os trabalhadores pararem um programa de TV, como está acontecendo com o Jornal da Bahia, que ficou fora do ar”, observou outro radialista. Ele acredita que é preciso paralisar cada vez mais. “As melhorias que conquistamos são fruto de briga, nunca de uma negociação pacífica. Isso não é escolha nossa, são os patrões que querem assim”, completou.
“Acho que as paralisações devem surtir um efeito positivo, uma vez que eles duvidam da capacidade de mobilização do sindicato e acham que não terão mais nenhum prejuízo financeiro. Na década de 80 havia muitas. De lá para cá não tenho visto mais”, lembrou um antigo funcionário da emissora. Os trabalhadores demonstraram confiança no sindicato para conquistar um salário melhor para a categoria. “Precisamos da representação do sindicato para fazer frente às condições impostas. Sozinhos não fazemos nada”, declarou um deles.
“Todos estão apoiando. Quem quiser pode entrar e ninguém entra. O reajuste que os patrões estão oferecendo é humilhante. As paralisações servem também para eles verem que estamos unidos e não estamos brincando”, falou outro trabalhador.
Era quase 10h quando o sindicato reuniu-se com os trabalhadores, realizando uma mini assembleia para saber se deveriam ou não voltar às atividades. Eles decidiram permanecer parados até o meio-dia e, só então, resolveram entrar na emissora.
A Bandeirantes é a presidente do SERTEB, o sindicato patronal da Bahia. É a principal representante do grupo empresarial. Esperamos que essa paralisação desencadeie o diálogo e a boa vontade nas negociações.