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Central sindical convocou paralisação contra medidas de austeridade anunciadas pelo governo (Foto:Jose Manuel Ribeiro/Reuters)
Uma greve contra as medidas de austeridade e reformas trabalhistas em Portugal hoje (22) suspendeu a circulação de trens, fechou portos e paralisou a maior parte do transporte público do país. A greve é uma reação às exigências da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para conceder a Portugal um resgate financeiro de 78 bilhões de euros (103 bilhões de dólares).
O comunista Arménio Carlos, novo dirigente da central sindical CGTP, quer que seus 700 mil filiados enviem ao governo centro-direitista a mensagem de que o país não vai mais tolerar a erosão dos direitos trabalhistas, a redução de salários e o desemprego recorde.
A central não divulgou estimativas de adesão à greve, mas disse que os transportes ferroviários foram fortemente afetados, inclusive na rota Lisboa-Madri. O metrô lisboeta parou à meia-noite. Muitos hospitais só aceitam emergências.
De acordo com a CGTP, houve paralisação também de coletores de lixo, portos e algumas escolas em todo o país. No setor privado, porém, a adesão parece ter sido pequena. A fábrica AutoEuropa, que pertence à Volkswagen e é a maior exportadora do país, manteve sua produção de veículos.
A TAP, empresa aérea nacional, continuou operando, e o aeroporto de Portela de Sacavém, nos arredores da capital, também manteve seu tráfego normal.
Muita gente que não acreditou na greve e ficou com medo de perder o dia de trabalho teve dificuldades para chegar aos seus compromissos.
“Eles entram em greve e os prejudicam”, disse a faxineira Ana Maria Veríssimo, de 53 anos, que esperava um dos poucos ônibus em circulação na capital. “Isso não vai resolver nada. Eles vão precisar encontrar outra forma. Se eu entro em greve, meu pagamento será menor no fim do mês.”
Sem transporte público, muita gente precisou tirar o carro da garagem, causando congestionamentos na Grande Lisboa.
Em Coimbra, terceira maior cidade do país, também havia poucos ônibus nas ruas, e a estação ferroviária estava fechada. A exemplo de Lisboa, no entanto, as lojas funcionavam.
O assistente social Manuel Duarte, de 47 anos, queixava-se de não ter encontrado transporte para chegar ao seu trabalho, nos arredores de Coimbra. “Não culpo a Europa ou a Alemanha pela crise; eles vieram aqui, nos emprestaram dinheiro, e precisam receber algo em troca. Nosso problema foram as nossas elites, que comeram todo o dinheiro… E agora, como sempre, os camaradas mais pobres ficam com a conta.”
O governo disse que só vai divulgar estimativas de adesão à greve depois que ela terminar.
Portugal enfrenta sua pior recessão desde a década de 1970, e em maio do ano passado precisou de um resgate financeiro internacional depois de rolar grandes dívidas. Alguns economistas dizem que será necessário um segundo pacote de ajuda, pois a recessão se agravou, o que complica o cumprimento de metas orçamentárias e o plano do país de voltar no final de 2013 ao mercado internacional de títulos.
Com reportagem adicional de Andrei Khalip e Daniel Alvarenga