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Gehm Hoff é o atual médico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e já teve entre seus pacientes a presidente Dilma Rousseff e o ex-vice-presidente José Alencar.
Em entrevista à Radioagência NP, Hoff afirma que a urbanização e o estilo de vida da população são fatores que aumentam a incidência de casos. Ele também relata que a verba do governo federal destinada ao tratamento da doença ainda é insuficiente “para se ter uma rede de atendimento ideal para a população.” Além disso, o médico afirma que há possibilidades do uso excessivo de agrotóxico nas lavouras do Brasil ter relação com o aparecimento do câncer.
Radioagência NP: Doutor Hoff, o Inca divulgou informações que, nos próximos dois anos, 1 milhão de novos casos de câncer serão diagnosticados. Esse número poder ser considerado real?
Paulo Marcelo Hoff: Ele está muito próximo da realidade, mesmo sendo uma estimativa. Infelizmente, o que estamos vendo é uma tendência ao crescimento de casos no país como um todo. Isso não é surpresa, por conta do envelhecimento da população. Eu não só acredito nesse número, como acho que nós devemos nos preparar para um aumento significativo de incidência da doença nos próximos anos.
Radioagência NP: E qual seria o motivo deste aumento?
PMH: A urbanização excessiva nos trás grandes benefícios e grandes problemas. Nosso estilo de vida não é muito favorável à prevenção de câncer ou doenças cardiovasculares. É importante que a gente tente trabalhar nosso estilo de vida para mudar o nosso risco.
Radioagência NP: O senhor informou em outras entrevistas que somente 60% dos casos são tratáveis. Isso significa que teremos um número alto de óbitos em função da doença?
PMH: O número de mortes certamente será muito grande. Nosso esforço não deve ser somente para melhorar o tratamento, mas também tentar diminuir a curva de incidência. Ou seja, tomar atitudes que daqui muitos anos façam que o número seja menor que o antecipado de caso e, consequentemente, o de morte.
Radioagência NP: O percentual de cura varia entre os pacientes do SUS e as pessoas que buscam atendimento em hospitais privados?
PMH: A estimativa de 60% é geral. Mas, infelizmente, sabemos que em nosso país tem uma variabilidade de qualidade de atendimento muito grande. É natural que em alguns lugares os números se aproximem dessa realidade. Porém, em outros locais infelizmente não, a chance de cura é menor que essa.
Radioagência NP: O governo brasileiro tem dimensão desse problema?
PMH: O governo federal tem demonstrado conhecimento, pois aumento a fatia do orçamento do Ministério da Saúde destinado ao tratamento de câncer. O problema é que mesmo havendo um aumento substancial, esses recursos ficam aquém do que seria necessário para ter uma rede de atendimento ideal para nossa população.
Radioagência NP: O Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxico. Existe alguma relação entre câncer e agrotóxico?
PMH: Nem todos os agrotóxicos causam câncer, embora alguns causem. O importante é não colocar todos os agrotóxicos como sendo a mesma coisa. Existem agrotóxicos perigosos. Têm agrotóxicos cancerígenos e outros que não são. O importante é eliminar o uso daqueles que causam mal a saúde.
Radioagência NP: Pesquisadores como o médico Wanderlei Antônio Pignati, e a médica e especialista em câncer, Silvia Regina Brandalise, que afirmam que o uso excessivo de agrotóxico está relacionado com os novos casos da doença. O senhor compartilha dessa ideia?
PMH: Seria simplista da minha parte culpar o agrotóxico pelo aumento da incidência. Mas, certamente existem produtos químicos que são carcinogênicos, que podem levar a formação de câncer. Acho importante não jogar todos os produtos na mesma categoria, porque eles são diferentes. É muito importante que a gente tente usar o menos possível esses produtos. O problema que temos é que para fazer a produção de alimentos suficientes para a humanidade é quase impossível fazer isso sem o auxílio dos produtos químicos. O segredo é como melhorar esses produtos para fazerem menos mal a saúde e tentar ao máximo diminuir os efeitos nocivos. Mas concordo com eles que há possibilidades dos produtos químicos terem relação com o aparecimento do câncer.
Radioagência NP: E como trabalhar o tema do câncer com a sociedade brasileira?
PMH: Primeiro, deve haver uma compreensão que o câncer não se forma do dia para a noite. A maior parte dos casos leva mais de uma década para se instalar. Devemos começar atuar cedo na juventude, mudando nossos hábitos, tendo hábitos de vida saudáveis para se protegerem do câncer que os atingiriam daqui dez ou 20 anos. Essas mudanças seriam: evitar o fumo, álcool com moderação ou evitá-lo completamente, evitar exposição solar excessiva, praticar esporte regularmente, ter uma dieta rica em frutas e verduras, sexo seguro para evitar transmissão de vírus, entre outros.