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Delegado Caffagni, acusado de corrupção e fraude
Conforme apurou a operação demoninada Tamburutaca, nome de crustáceo que vive no fundo do mar, delegado e auditores fiscais cobrariam propina de empresários e produtores rurais para livrá-los de multas por irregularidades trabalhistas.
Os presos serão indiciados pelos crimes de concussão (extorsão praticada por funcionário público), corrupção, prevaricação, violação de sigilo funcional e formação de quadrilha, cada um de acordo com sua participação no crime. De todos os mandados de prisão apenas um, cujo acusado está foragido, não foi cumprido. No início da noite, três dos 17 presos foram soltos por colaborar com as investigações.
A Polícia Federal não divulgou os nomes dos acusados, mas o Diário apurou com seus respectivos advogados que, além de Caffagni, também foram presos três auditores fiscais -José Ernesto Galbiatti, Antônio Puga e José Eduardo Sandoval Nogueira, os dois últimos já aposentados -, e o auxiliar administrativo José Sandoval Nogueira Neto, filho de Sandoval Nogueira.
Guilherme Baffi |
Movimentação dos agentes federais em frente à sede da polícia, durante operação Tamburataca |
Em resumo distribuído aos defensores, a Polícia Federal informou ter apurado que auditores fiscais do trabalho recebiam vantagens indevidas de empresários e usineiros “para evitar fiscalizações trabalhistas ou promover rescisões contratuais de empregados sem o cumprimento das exigências legais”.
As investigações também levantaram que representantes sindicais da categoria dos trabalhadores intermediavam o esquema de propina entre os empresários e os auditores fiscais. No total, 200 policiais participaram da Tamburataca, deflagrada às 5h30 de ontem, que cumpriu além das 17 prisões, 44 mandados de busca e apreensão de documentos em 14 municípios das regiões de Rio Preto, Jales e Marília. Os agentes federais apreenderam computadores, documentos fiscais e de movimentação bancária de todos os envolvidos.
Edvaldo Santos |
Ministério do Trabalho de Rio Preto é investigado por fraude fiscal |
O prédio do Ministério do Trabalho em Rio Preto foi um dos alvos de busca e apreensão. Logo no início da manhã, os policiais fizeram uma varredura no prédio, onde apreenderam documentos e CPUs. Por causa do cumprimento do mandado judicial, o prédio ficou fechado para o público até 10 horas.
Todos os presos da região foram encaminhados à sede da PF para serem interrogados e indiciados. No início da noite, 12 deles foram transferidos à cadeia de Catanduva. O delegado federal William Marcel Murad, chefe da PF de Rio Preto, disse que, por ordem judicial, não poderia informar os nomes dos presos nem os motivos das prisões. “As investigações continuam e o material será apurado e encaminhado à Justiça Federal”.
Edvaldo Santos |
Vilma Costa, mulher de Caffagni, com o advogado Marco Antônio Cais |
Agentes federais estiveram na sede da Circular Santa Luzia, às 6h, e pediram documentos e informações ao diretor Paulo Vicentin. O gerente de tráfego da empresa, Euclides Spati, não informou quais os questionamentos feitos pelos policiais. Segundo ele, os agentes não teriam revelado a Vicentin se as buscas no local tinham ligação com a Tamburataca.
O procurador da República, Álvaro Stipp, um dos responsáveis pela investigação, disse estar impedido de fornecer detalhes. Segundo informações do portal G1, o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, determinou a exoneração de Caffagni e a instauração de inquérito administrativo.
Embora a PF não tenha explicado o contexto do nome escolhido, Tamburataca remete ao maior crustáceo entre os decápodes da família das lagostas: o corrupto. O crustáceo vive em fundo lodoso e aproveita-se de buracos deixados por animais para se instalar.
Edvaldo Santos |
Familiares do delegado do trabalho em frente à sede da PF |
‘Todos sabem que ele é uma pessoa íntegra’
Vilma Costa Caffagni, mulher do delegado regional do Trabalho, Robério Caffagni, nega que o marido tenha envolvimento em qualquer tipo de esquema ilícito ou criminoso. “Todos os amigos sabem que ele é uma pessoa íntegra. “Essa operação manchou a imagem dele. Provavelmente, quando ele se aposentar teremos de nos mudar de Rio Preto.”
Como sinal da importância de Caffagni, Vilma fez questão de lembrar que, no mês de setembro do ano passado, o marido foi homenageado pela Câmara de Rio Preto, numa festa que reuniu mais de 600 convidados no Automóvel Clube. Na ocasião, Caffagni recebeu a Medalha do Brasão de Rio Preto e o diploma de comendador da Ordem Municipal do Brasão, pelos 25 anos de serviços prestados à comunidade e por “sua colaboração no progresso e desenvolvimento de Rio Preto”.
A homenagem foi proposta pelo vereador Jorge Abdanur (PSDB), que, na época, justificou que o delegado “é um recorde nacional de permanência num cargo de confiança”. Caffagni completou, no dia 22 de agosto passado, 25 anos no cargo. Vilma disse que os policiais federais chegaram à casa pouco depois das 6h da manhã, num condomínio de alto padrão de Rio Preto, com os mandados de busca e prisão.
“Pediram que ele (Caffagni) os acompanhasse para uma averiguação”. Segundo a mulher, os agentes apreenderam na casa cópias da declaração de imposto de renda, escrituras de imóveis, computador e até comprovantes de compra de material de construção usado na reforma da casa da família.
Outros
Já o advogado Jatir da Silva Gomes Júnior, defensor do auditor fiscal aposentado José Eduardo Sandoval Ribeiro e do filho dele, o auxiliar administrativo José Sandoval Nogueira Neto, afirmou que os dois estão sendo acusados de corrupção e formação de quadrilha. Segundo o advogado, o auditor fiscal foi preso preventivamente e o filho está com prisão temporária decretada.
Segundo Gomes Júnior seus clientes se mantiveram calados no interrogatório e só falarão em juízo. “Antes, vou analisar o processo para ter conhecimento do total das investigações para orientá-los sobre o que dizer”, afirmou o advogado. O advogado, Marco Antonio Cais, defensor do auditor fiscal aposentado Antônio Puga, disse que o cliente teve prisão temporária decretada por cinco dias. “Ele já foi interrogado hoje por seis horas. A Polícia Federal vai agora investigar qual a participação dele no esquema.”
Na casa de um produtor rural de José Bonifácio, que possui propriedade de cana de açúcar, preso acusado de corrupção, os policiais federais apreenderam quatro armas de fogo. Segundo o advogado, que não quis se identificar, o produtor também responderá por posse ilegal de armas, apesar de as armas serem herança do pai dele.
O advogado confirmou que seu cliente subornou um fiscal por problemas financeiros. “Entra muito dinheiro, mas também sai muito. Muitos funcionários da cana-de-açúcar são do Nordeste e quando saem, entram com ação trabalhista”, afirmou o advogado. Uma mulher, ex-funcionária de uma granja da região, poderia ser liberada após o interrogatório por “colaborar com as investigações.”
Colaborou Guilherme Baffi
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