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Somando-se à recente onde das importantes manifestações iraquianas — que protestam, entre outras coisas, contra a corrupção governamental, a falta de serviços sociais, o complexo industrial das prisões do Iraque e a quebra do sistema político sectário —, a convocação de concentrações previstas para 9 de abril é a primeira em denunciar a ocupação dos Estados Unidos como a causa principal que jaz na destroçada realidade social à qual milhões de iraquianos são obrigados a enfrentar no cotidiano.
Um impulso organizacional novo e entusiasta inspirado nos recentes levantes árabes permitiu aglutinar as queixas expostas nos protestos semanais durante o mês passado. Dois comunicados assinados pelo Movimento Popular para o Salvamento do Iraque, da Frente Popular para o Salvamento de Kirkut, a Organização de Estudantes e Jovens por um Iraque Livre, o Movimento Firme de Basra para a Libertação do Sul e a Associação Iraquiana das Tribos do Sul e do Centro do Iraque resumem suas reivindicações e os meios pelos quais esperam alcançá-las.
As reivindicações são:
- Saída incondicional das forças de ocupação
- Revogação do acordo de segurança que viola a soberania e a independência do Iraque.
- Revogação do processo político do sistema de cotas sectário e étnico.
- A construção de um Estado iraquiano civil por meio de eleições transparentes e sem a interferência das forças de ocupação nem nenhuma força estrangeira nem regional, especialmente o Irã.
- Libertação dos presos inocentes das prisões dos ocupantes e do governo.
- Que se faça pública a localização dos cárceres secretos dispersos por todas as províncias do Iraque.
- Que se leve a cabo todas as reivindicações do nosso povo, tal como foram expostas na jornada do “Levante da Ira”, de 25 de fevereiro.
- A formação de uma comissão judicial independente que investigue as ações das forças de segurança contra os manifestantes pacíficos que participaram nos protestos deste último mês.
O comunicado continua com o anúncio de:
“[…] A organização e realização de concentrações em longo prazo em todas as províncias iraquianas para comemorar o oitavo aniversário da brutal ocupação estadunidense de nosso precioso Iraque, no sábado, 9 de abril de 2001. […] Esta concentração não durará horas ou dias, mas se estenderá por noites e dias até que as reivindicações dos manifestantes sejam satisfeitas. […] Para as concentrações, instalaremos barracas de acampamento diante das bases militares dos Estados Unidos, situadas em todas as províncias iraquianas. Pedimos a todas as pessoas patrióticas e às forças que se opõem à ocupação que participem dessa campanha”.
Os Estados Unidos contam com 14 grandes instalações militares no Iraque, junto a dezenas de outras menores. Depois de a administração Bush pressionar pelo estabelecimento de 58 bases permanentes, na redação do “Acordo sobre o Status das Forças”, a sorte do que vai acontecer durante a administração Obama e a famigerada “retirada” de 2011 não estão claras.
Entre os que se destacam nessa convocatória está Uday al-Zaidi, irmão do jornalista Muntazer al-Zaidi, famoso internacionalmente por ter lançado um sapato contra o presidente Bush em dezembro de 2008 e, mais tarde, por sua eloquente declaração justificando seu ato (como representantes e organizadores dos protestos do mês passado, tanto Muntazer e Uday al-Zaidi foram perseguidos, roubados e detidos pelas autoridades iraquianas).
A cobertura dessa convocatória de mobilização por parte dos principais meios de comunicação foi escassa, embora a al-Jazira, na língua árabe, tenha feito referências breves, como alguns meios de comunicação iraquianos fizeram.
Na blogosfera iraquiana, não obstante, fala-se com insistência desta iniciativa, assim como mais amplamente de como armar-se de audácia para mobilizar-se por um novo Iraque.
Fonte: Rebelión, a partir de http://iraqleft.wordpress.com/2011/03/29/occupying-the-bases-april-9th-and-iraqs-day-of-salvation/