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A cidade de Porto Alegre (RS) receberá, a partir de quarta-feira (29), o Fórum Social Mundial Palestina Livre. Serão três dias de evento, que pretende dar visibilidade à questão palestina e demonstrar o apoio de diversas organizações ao redor do mundo ao povo palestino.
O encontro contará com cinco grandes conferências, oficinas, seminários e diversas ações autogestionadas criadas pelas entidades que organizam o Fórum. Está prevista a participação de delegações de 36 países dos cinco continentes.
A integrante do movimento “Palestina para Todos” Soraya Misleh explica que o objetivo fundamental do Fórum será estimular as mobilizações nacionais em solidariedade ao povo palestino. “A ideia é de que as organizações saiam do Fórum com propostas de ações para fortalecer a campanha para uma Palestina Livre”, afirma.
O Fórum dará destaque às principais demandas do povo palestino hoje, como o fim imediato da ocupação militar e colonização de terras árabes; a derrubada do muro de segregação, que vem sendo construído na Cisjordânia desde 2002; libertação imediata de todos os 5 mil presos políticos palestinos; garantia de igualdade de direitos civis a todos os habitantes do território histórico da Palestina;e respeito ao direito de retorno dos 8 milhões de refugiados palestinos às suas terras e propriedades.
A iniciativa ganha ainda mais importância devido aos recentes ataques de Israel contra o povo palestino, que mataram pelo menos 162 pessoas.
Boicote
Segundo Soraya Misleh, um dos desafios mais urgentes da campanha de solidariedade à Palestina é intensificar, no Brasil, as ações de boicote a Israel. Por isso, o assunto deverá ser um dos principais tópicos de debate no Fórum.
A ideia do boicote surgiu em 2005, quando organizações palestinas lançaram um chamado para que os países implantassem, contra Israel, um boicote semelhante ao realizado contra o apartheid na África do Sul. O objetivo seria manter o boicote até que Israel reconhecesse os direitos fundamentais do povo palestino. O apelo deu origem à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel (BDS) e tornou-se a principal campanha internacional de solidariedade ao povo palestino. A iniciativa engloba não somente boicotes a Israel e empresas cúmplices das violações israelenses das leis internacionais, mas também boicotes acadêmicos e culturais de instituições israelenses coniventes com a ocupação.
“Queremos, com o Fórum, fortalecer a campanha para esse boicote, foi o que fez derrubar o apartheid na África do Sul”, ressalta Soraya.
No Brasil, a campanha BDS foi lançada oficialmente em setembro do ano passado, durante um ato na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Desde então, sua principal reivindicação é a de que o governo federal rompa todos os contratos que possui com Israel, sobretudo os acordos militares.
O contato entre os dois países, lembra Soraya, vem aumentando ano a ano, motivado pela realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil. Com isso, desde 2010, o Brasil converteu-se no segundo maior importador da indústria armamentista de Israel.
“O governo brasileiro afirma apoiar a criação do Estado palestino, mas é contraditório afirmar isso e firmar convênios militares com Israel”, critica a integrante do movimento “Palestina para Todos”.
Em 18 de novembro, em meio aos ataques de Israel à Faixa de Gaza, os principais chefes de Segurança da Copa e das Olimpíadas participavam de uma conferência internacional de Segurança Pública em Israel, onde examinaram equipamentos que poderão ser utilizados nos eventos esportivos.
Em abril do ano passado, a Embraer também assinou um acordo com a AEL, subsidiária da companhia israelense Elbit Systems, a fim de explorar o mercado de veículos aéreos não-tripulados (Vant). A parceria entre as duas empresas, no entanto, existe há mais de 30 anos.
Programação
O Fórum Social Mundial Palestina Livre iniciará com uma marcha pelas ruas da capital gaúcha na quarta-feira (29). A concentração está marcada para às 17h, no Largo Glênio Peres, no centro.
O evento terá a participação de pessoas ligadas à história de luta e resistência do povo palestino, como a mãe de Rachel Aline Corrie, ativista estadunidense que integrava o Movimento de Solidariedade Internacional (International Solidarity Movement), morta esmagada por um tanque das forças militares de Israel enquanto tentava bloquear a destruição de uma casa palestina. São esperados também o cartunista Carlos Latuff, o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali e a filha mais velha de Che Guevara, Aleida Guevara.
Estão ainda confirmadas as presenças do cantor libanês Marcel Khalifa, o grupo de hip hop palestino Dam e a cantora israelense Fana Mussa. Um espaço da Usina será reservado para a “Casa Palestina”, onde serão realizadas atividades folclóricas palestinas.
Todas as ações ocorrerão na Usina do Gasômetro, Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Integra a programação o Fórum de Autoridades Locais, que será realizado em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre.
As atividades ocorreriam também no Ministério Público do Rio Grande do Sul. Entretanto, no início desta semana a entidade retirou seu apoio ao evento. Por meio de sua assessoria de imprensa, o MP-RS afirmou ao jornal Sul21 que não cederia seus espaços para não se “vincular” a “um evento que não propõe a paz”. Ainda de acordo com a assessoria, o item sobre o boicote econômico a Israel foi um dos pontos que mais evidenciaram uma “provocação por parte de um grupo para com outro grupo”.
A programação completa e mais informações sobre o Fórum estão na página oficial do evento, http://wsfpalestine.net/pt-br/.
(Com informações do Sul21)