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Milhares de trabalhadores foram atraídos para as obras de Jirau e agora exigem tratamento digno (Foto: RBA/Arquivo)
Representantes de trabalhadores e de ribeirinhos da Amazônia manifestaram nesta quarta-feira (13) ao secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que ainda há graves violações trabalhistas e sociais envolvendo as obras da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) reforçaram a mensagem de que a situação ruim pode levar a novos conflitos.
“Tenho certeza que se a Força Nacional não sair de lá de dentro, se a Camargo Corrêa não melhorar o tratamento do trabalhador, vamos ter um quebra-quebra que não demora”, relatou Altair Donizete, vice- presidente do sindicato.
O alerta foi feito quatro meses após as cenas que rodaram o Brasil mostrando a revolta de funcionários submetidos a más condições de trabalho. Em conversa por telefone, o líder sindical afirmou que Carvalho se mostrou receptivo aos pedidos, aceitando a convocação das empresas para conversar e o agendamento de uma viagem ao canteiro de obras de Jirau.
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Os sindicalistas reclamam que são impedidos de falar com os operários da Camargo Corrêa e que a empresa está substituindo os vigilantes contratados por terceirizados.
A mensagem foi basicamente a mesma transmitida na última semana à presidenta Dilma Rousseff. Durante viagem a Porto Velho, ela recebeu uma carta denunciando o uso da violência contra os operários, o que resultou na determinação para que se realizasse a audiência desta quarta.
De acordo com as duas organizações, até mesmo a Força Nacional de Segurança, chamada ao local para evitar novos abusos, participa do confisco de bens dos trabalhadores acusados de integrar a revolta ocorrida no começo do ano. “A Força Nacional foi chamada para proteger o trabalhador, mas está lá dentro desfilando e fazendo intimidação”, reclama Donizete.
Seguem também as denúncias de que seis mil operários foram demitidos por justa causa. São os trabalhadores que haviam sido enviados de volta aos estados de origem após termo firmado entre o Ministério Público Federal e o consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável pelas obras. Eles poderiam, após o descanso com a família, decidir entre retornar ao trabalho ou permanecer em casa.
Segundo o sindicato, estes funcionários foram dispensados sob o pretexto de abandono do emprego. A organização dos trabalhadores ingressou com mais de 30 ações na Justiça contestando as demissões. De acordo com Donizete, há muitos trabalhadores sem carteira assinada e de terceirizadas trabalhando nos canteiros.
Outra questão é que Nova Mutum, a localidade para a qual foram transferidos os moradores de Velha Mutum, atingida pela barragem de Jirau, não corresponde à necessidade das pessoas. Segundo o MAB, as famílias deslocadas estão sem terras para plantio e deixaram de receber este mês o auxílio que era pago pelo consórcio.