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Os trabalhadores que fazem parte de empresas prestadoras de serviço já correspondem a mais da metade da força de trabalho do setor elétrico brasileiro. O estudo mais recente elaborado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) apontou índice de 58,3% de empregados nessa situação.
Além disso, o número de vítimas de acidentes fatais é cerca de três vezes maior que os ocorridos entre trabalhadores contratados. De cada 100 mil eletricitários terceirizados, 47,5 morreram durante o exercício da função.
Somente na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), desde 1999 acontece a média de uma morte a cada 45 dias, segundo o sindicato que representa a categoria (Sindieletro/MG).
Milton Marcelino é um sobrevivente do trabalho precarizado. Aos 23 anos, prestava serviços para a Contemporânea Engenharia, empresa contratada pela Cemig. Em 1990, tomou um choque elétrico em uma linha de alta tensão enquanto substituía um poste. Em decorrência do acidente perdeu as duas pernas e o braço esquerdo. Ele relata a falta de treinamento técnico para os empregados terceirizados.
“Eu trabalhei na empresa da empreiteira, então eu nunca ouvi falar que teve preparo pra saber o risco que a parte elétrica pode causar à vida da pessoa.”
Milton ainda conta que a empresa restringia e até mesmo deixava de fornecer os equipamentos de segurança.
“No dia que eu sofri acidente eu pedi para trocar minha botina. A botina que eu estava usando era eu quem tinha comprado. A luva que eu estava usando, eu pedi para trocar. No almoxarifado, eles falaram que dava para usar a luva mais uns 15 dias ainda. E ela estava toda furada.”
A empresa terceirizada para qual Milton trabalhava faliu. A Cemig foi considerada pela justiça “responsável solidária” pelo acidente e foi condenada a pagar uma pensão vitalícia retroativa e indenização. Com os recursos apresentados pela companhia mineira e os atrasos no pagamento, somente depois de dezoito anos, Milton passou a receber regularmente.