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Manifestantes do Sindicato dos Metroviários e familiares das vítimas fatais do acidente com a obra do metrô Pinheiros, em 2007, foram proibidos de participar da inauguração da estação nessa segunda-feira (16), na zona oeste de São Paulo (SP). Entre trabalhadores da e transeuntes, o acidente deixou 7 mortos. Segundo o Sindicato dos Metroviários, eles foram impedidos pelos seguranças do consórcio Via Quatro de adentrarem o local. O protesto continuou na entrada da estação.
De acordo com nota divulgada pelo Sindicato, os seguranças chegaram a fechar o portão da estação assim que a estudante Thaís Ferreira Gomes tentava entrar no local junto com o filho Kauã. Ela estava grávida de sete meses quando ficou viúva do cobrador Wescley Adriano da Silva, uma das sete vítimas do acidente.
Além dela, os tios do cobrador eram os únicos familiares de vítimas presentes na manifestação. O tio Elenildo Adriano conta que no início da manifestação, tentou entrar na estação, mas foi agarrado no pescoço por seguranças. “Tentaram ao máximo impedir nossa entrada, mas como a imprensa estava lá, eles acabaram deixando a gente entrar. Porém de forma alguma deixaram a gente chegar perto do Serra para questionar sobre as promessas”. Segundo ele, um assessor do governo o entregou um cartão, dizendo que a família poderia entrar em contato para conseguir um encontro com o governador Geraldo Alckmin.
A família de Wescley foi cobrar uma série de promessas feitas à época pelo ex-governador, José Serra. “O Serra tinha nos prometido deixar a assistência psicológica a nossa disposição, o que nunca foi feito. Disse também que seria feito um acordo com minha irmã para ela receber uma indenização, que ela nunca recebeu”, afirma. Além disso, o ex-governador prometeu uma placa com o nome das vítimas do acidente, mas Elenildo conta que a placa não estava lá.
Outros familiares das vítimas foram procurados pela redação para falarem sobre a situação das indenizações, mas ainda abalados, se recusaram a dar entrevista.
Reivindicações justas
Durante o protesto, os manifestantes pediam a instalação de uma placa no local com os nomes dos mortos e de outros trabalhadores que morreram em acidentes de trabalho durante a obra. Também reivindicavam maior assistência e indenizações às famílias das vítimas e o fim das parcerias público-privadas na construção dos metrôs, com a estatização da linha 4-Amarela.
A integrante do movimento de moradores que tiveram suas casas danificadas pela obra, a biológa Zelma Fernandes Marinho, participou do protesto. Ela conta que conseguiu entrar na estação e chegou a falar com o governador Geraldo Alckmin, que assumiu o compromisso de ouvi-la. “No meu caso, eles até agora não assumem a responsabilidade pois dizem que nós não estamos a 50 metros do enterno da catrera. Nós estamos reclamando da destruição das casas desde 2006 e já naquela época não nos davam atenção. O caminho, então, foi entrar com uma ação junto a defensoria pública”, conta.
Zelma disse que todas as casas da rua onde mora, Amaro Cavalheiro, estão danificadas. Ainda assim, a maioria dos moradores cansaram de lutar. Muitos se mudaram ou morreram. “O Metrô fala que não adianta reformar as casas porque o problema está no solo. A solução então seria demolir e construir tudo novamente. Os moradores não querem isso”, afirma.
Além de Alckmin, estavam presentes na inauguração daestação o vice Alberto Goldman, o ex-governador José Serra, o secretário estadual de transportes metropolitanos, Jurandir Fernandes, o presidente do Metrô, Sérgio Avelleda, além de representantes do consórcio Via Quatro. Segundo o Sindicato, as autoridades chegaram a mudar seu percurso por causa do protesto, indo parar na estação Faria Lima para atender a imprensa.
“A imprensa estava lá e o governo de São Paulo queria mostrar apenas o que é positivo para imagem deles. A realidade que a população enfrenta e as críticas à essa realidade, eles escamoteam. Para eles não interessam democratizar a opinião pública”, afirma o diretor de Comunicação e Imprensa do Sindicato, Ciro Moraes dos Santos.
Segundo Ciro, além de todos os problemas com a obra e o desrespeito com os moradores da região e familiares das vítimas, o contrato da linha 4 amerela ainda é ruim para os paulistanos. “A linha 4 exigiu o investimento de 73% do custo por parte do Estado e 27% por parte das empresas privadas. Mesmo assim, está previsto que caso da estimativa de arrecadação e lucro das empresas não forem alcançados, o Estado terá que bancar essa diferença”, denuncia.
A obra da linha Amarela começou em novembro de 2005, e apenas no ano passado é que foram inauguradas duas estações. A estação de Pinheiro é a quarta estação inaugurada da linha. Outras sete estações ainda estão, depois de seis anos, em construção.