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Zelaya entende que os motivos para o golpe não foram jurídicos, mas políticos e essencialmente econômicos (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
O Congresso de Honduras aprovou esta semana reformas que permitem a realização de um referendo sobre a reeleição presidencial. A alteração era exatamente a que desejava o presidente Manuel Zelaya, derrubado por um golpe em 2009 sob o pretexto de que não poderia mexer na Constituição.
A reforma foi aprovada por 103 votos a favor e 25 contra e permite que a população opine sobre a possibilidade de que chefes do Executivo possam se candidatar à reeleição. “Antes era pecado falar que o povo deveria decidir e hoje chegamos ao entendimento de que o povo é superior a nós, deputados”, afirmou o presidente do Congresso, Juan Hernández, a mesma casa que há um ano e meio chancelou a derrubada de Zelaya.
Após o golpe, foi colocado no poder Roberto Micheletti, então congressista, que deu início a repressões contra os movimentos que tentavam restituir o poder do presidente eleito. Semanas depois da derrubada, o líder do regime golpista admitiu que Zelaya foi derrubado por suas amizades. “Tiramos Zelaya por seu esquerdismo e corrupção. Ele foi presidente, liberal, como eu. Mas se tornou amigo de Daniel Ortega, (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa, Evo Morales.” Co-partidários de Micheletti acrescentaram que o presidente legítimo foi retirado por não querer implementar uma agenda neoliberal.
Em carta publicada quinta-feira (13) no site Habla Honduras, Zelaya manifestou que a aprovação da mudança pelo Congresso só confirma que a questão constitucional foi o caminho encontrado para destitui-lo do poder. Ele pensa que o real motivo da derrubada foi a aproximação com os governos democráticos da América do Sul, entre os quais inclui Lula e Cristina Kirchner. “O temor ao socialismo é o que move a direita a atacar com sanha a nosso povo e destruir nossa democracia. Os argumentos jurídicos que esgrimiram não eram outra coisa que não maquinações, as falácias a que nos submetem os responsáveis pela escravidão por mais de cem anos.”
Retirado de sua casa durante a madrugada de 28 de junho de 2009, vestindo pijama, o presidente foi enviado para a Costa Rica. A Organização dos Estados Americanos (OEA) determinou de imediato a suspensão de Honduras do organismo multilateral. Após a eleição de Porfírio Pepe Lobo, os Estados Unidos deram a situação por normalizada, mas o Brasil e outras nações da região consideram que os hondurenhos continuam na ilegalidade. O presidente daquele país foi o único chefe de Estado das Américas a não ser convidado para a posse de Dilma Rousseff, em 1º de janeiro deste ano.