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Foram quase dois anos para a montagem do espetáculo. Durante esse tempo, o grupo fez preparação de cenas, pesquisas de figurinos, de cenários e músicas a partir de elementos que foram colhidos em viagens pelo sertão mineiro, em lugares como Andréquicé, Cordisburgo, Porto de Janeiro, entre outros. Nesse percurso, os atores procuraram explorar o universo poético de Guimarães Rosa, incorporando referências de Gabriel García Marquez e também de Jorge Amado.
Desde o início da Companhia, Guimarães tem sido referência no processo de investigação e de criação teatral para o grupo. Além de Marulho, os espetáculos A Casa, de 2006, e Vesperais na Janela, de 2008, também foram realizados a partir de pesquisas sobre obras do autor.
O grupo surgiu em 2003 com os atores Rudifran Pompeu, Izabela Pimentel, e com as ex-integrantes Renata Laurentino e Juliana Fagundes. O intuito era o de trilhar um caminho diferente no teatro, se reinventando como atores e atrizes para expressarem os incômodos que sentiam dentro do mundo das artes.
Em 2004, começaram a pesquisar e a criar a dramaturgia por meio do estudo de diversos autores teatrais.
Walter Benjamin, Bachelar, Tenesse Willians, Patativa do Assaré, Ariano Suassuna, Gorki, Brecht, Graciliano Ramos e Ibsen são alguns dos nomes que fazem parte das já consolidadas referências do Redimunho. Porém, foi em Guimarães Rosa que o grupo encontrou o principal norteador de sua pesquisa.
A escolha do escritor como condutor dessa investigação deve-se uma das principais motivações do Redimunho: o “estudo da alma humana”. Para eles, Guimarães se refere a ela por um viés muito primitivo, poético, simbólico. “(Ele) Fala sobre o homem simples, ligado à natureza, às suas crenças, à sua raiz” conta Izabela Pimentel, atriz e membro fundadora do Grupo Redimunho.
Marulho
A peça Marulho veio como “uma nova necessidade de pesquisa, de re-olhar nosso estudo anterior. Nessa pesquisa, o nosso foco foi uma passagem do Grande Sertão Veredas em que Riobaldo se encontra com Diadorim no De Janeiro, que é um riozinho pequeno que faz fronteira com o São Francisco. Então a gente foi para lá pra conhecer aquele cantinho que ele conta na obra. De lá, a gente fez uma travessia para pequenos vilarejos nos quais conhecemos os moradores, escutamos histórias, nos relacionamos com a natureza de lá”, relata Izabela.
Quando retornaram a São Paulo, os 20 atores da trupe foram a campo de ensaio e começaram a criar cenas, que foram sendo amarradas pelo diretor Rudifran Pompeu, formando o espetáculo. “Histórias que a gente ouviu lá, imagens, cheiros, cores, tudo o que se pode imaginar vira objeto de criação”, conta a atriz.
Já de García Marquez, os artistas do Redimunho retiraram as lendas fantásticas e a aldeia fictícia Macondo presentes na obra Cem Anos de Solidão. Izabela explica que o grupo considera a Macondo como um “como uma ideia de um lugar que a gente (os atores) cria. Nada existe nela, tudo é criação da nossa cabeça. Os atores são meio esses ciganos que passam por todos esses caminhos e vão caminhando ao longo da vida”.
Além do plano ficcional, a peça contém um plano real de ação. Nele, os atores apresentam um desabafo do dia-a-dia dos artistas, mostrando o “sofrimento do que é ser um artista nesse país e levar isso adiante sem nos colocarmos em um lugar superior, mas em um lugar sóbrio de artista“, diz Izabela. “A gente coloca em conflito a nossa profissão, pois a gente tá cansado de fazer teste, de ganhar um dinheirinho mísero do governo, de não ter grana, de não ser valorizado, das poucas oportunidades”, acrescenta.
Todos esses conflitos irão desaguar em diversos questionamentos: “A quem importa a arte e os artistas? Para o quê serve tudo isso?”. Perguntas feitas por atores de um coletivo teatral preocupados em investigar constantemente sua importância no mundo e a si mesmo.
Serviço
Marulho: O caminho do Rio está em cartaz na nova sede do Grupo Redimunho, que fica no centro da cidade de São Paulo, e onde também serão realizados debates, oficinas e exposições. Para mais informações acessehttp://redimunho.wordpress.com.
Fotos: Kátia Kuwabara