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O marido, Tomás Nativí Galvez, dirigente da União Revolucionária do Povo (URP), foi sequestrado e desapareceu na noite de 11 de junho de 1981, quando ela estava grávida de três meses. Naquele momento, Oliva iniciou uma longa e incansável luta em defesa dos direitos humanos dos hondurenhos, o que lhe custou perseguições, intimidações e ameaças constantes.
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Qual é a relação de Honduras com a memória histórica e coletiva?
O povo não pode e não deve esquecer o que aconteceu a partir dos anos 1980 e o que continua acontecendo agora, depois do golpe de Estado. Há uma dívida pendente e é preciso educar o povo. Esta educação serve justamente para não esquecer, para observar e estudar os fenômenos sociais que vimos enfrentando há muitos anos, porque os violadores, os torturadores, os represores, são os mesmos. O que muda são só os nomes das novas vítimas. Além disso, serve para criar novas sociedades, para construir gradualmente um tecido social no qual os jovens sejam capazes de entender as dinâmicas de ontem e de hoje, envolver-se em um processo de mudança da sociedade. O que também estamos fazendo é resgatar a memória no âmbito da região centro-americana inteira, para criar aos poucos uma transferência geracional, para uma juventude comprometida e consciente em toda a região, e isto mantém viva a esperança.
Na cerimônia de entrega do Tulipa 2010 em Haia, a senhora falou de esperança e de sonhos. Quais são estes sonhos para a Honduras de hoje?
A esperança é poder conquistar mudanças reais em nossa sociedade e, para que isto seja possível, não podemos aceitar que se negocie a justiça. Quando uma pessoa mantém esta esperança, pode sonhar, e é preciso continuar construindo os sonhos, mesmo que seja em um momento tão difícil quanto este que vivemos, com uma reacomodação das forças poderosas e oligárquicas em âmbito planetário. Por esta esperança, por este sonho pode-se também morrer. Morrer pela esperança, semeando este novo tecido social de dignidade, conhecimento e compromisso. Não importa quanto sacrifício é necessário.
A senhora também falou de verdade e justiça, algo muito distante da realidade em seu país…
Em Honduras, é preciso deixar de ser hipócrita. Devemos reunir os diferentes setores e vislumbrar objetivos comuns para poder desenhar uma estratégia. O que os arquitetos do mal fazem é dividir as forças sociais, e esta é uma arma que funciona. Temos vontade de encontrar a verdade e a justiça, mas precisamos nos manter unidos.
O Cofadeh acaba de completar 29 anos de existência. Qual a importância do trabalho desenvolvido por esta organização?
Ser parte da história do Cofadeh, vê-lo crescer, desenvolver-se, viver todos esses momentos, muitos dos quais foram muito difíceis, não foi fácil. Mas foi uma escola para mim. Nos primeiros anos, ninguém falava de direitos humanos. Era algo desconhecido e sofríamos todo tipo de ataque. As perseguições, ameaças, infiltrações, desqualificações, os julgamentos nos tribunais eram a ordem do dia, e dias muito difíceis viriam. Tivemos de ser fortes, nos sacrificar, e conseguimos porque estamos seguros de nossa tarefa, porque há um povo que está conosco, porque o Cofadeh é uma casa aberta, construindo história, verdade, exigindo justiça, com amor e esperança.
Qual é a situação dos direitos humanos em Honduras?
É uma realidade extremamente grave. Mantém-se uma política de Estado tenebrosa, cínica e mentirosa. Os últimos meses foram muito sangrentos, com muita pressão social e muita repressão por parte dos agentes do Estado e de grupos paramilitares, como por exemplo contra as organizações camponesas do Bajo Aguán. O presidente Porfirio Lobo criou a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e quer promover uma Comissão Internacional contra a Impunidade, para limpar a imagem do regime, reintegrar Honduras à OEA (Organização dos Estados Americanos) e ter acesso a fundos internacionais. É preciso estar atento, pois são instâncias que serão controladas pelos mesmos autores do golpe. O que não vemos é a vontade política para mudar as coisas.
Em algum momento a senhora teve medo de perder a vida?
Fui ameaçada insistentemente, mas perdi o medo na noite em que Tomás (Nativí) foi “desaparecido”. A dor e o desejo de saber o que havia acontecido com ele venceram o medo. E hoje as injustiças cometidas a cada dia contra a população me fazem vencer o medo. Não creio que esteja a salvo, mas não deixarei de fazer o que acho certo. Não vou sucumbir ao medo e às ameaças, porque preciso saber, caminhar, acompanhar, não desistir, pois acredito na causa dos direitos humanos, abracei todo o sofrimento do povo do passado e convivo com a dor do povo do presente. Entrei em um caminho que não tem volta e não quero voltar. Ao contrário, quero avançar.
Desde sua criação, em 2008, o Prêmio Tulipa foi concedido a mulheres. A senhora acredita que isso tenha algum significado em particular?
Simplesmente acho que chegou a vez das mulheres. Sempre acreditei que os seres humanos, homens e mulheres, que se comprometem com a causa dos direitos humanos são extraordinários e extraordinárias. Como mulher, tive de enfrentar momentos difíceis, porque o machismo é muito forte e não gosta de reconhecer as vitórias das mulheres. E quando uma mulher se sobressai, há muitos problemas, porque não nos consideram capazes de dar tudo em troca de nada, só por amor à justiça.