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O início do ano sempre é um período de maiores gastos para as famílias. No mês de janeiro passado, por exemplo, as despesas com educação puxaram o custo de vida na cidade de São Paulo para cima, segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Apesar de essa elevação estar associada a uma época específica do ano, a sensação é de que viver na capital paulista custa cada vez mais, principalmente para as pessoas de menor renda.
Maria Amália, aposentada de 72 anos, afirma que os gastos com “alimentação e remédios aumentaram muito”, representando uma fatia maior do orçamento. A empregada doméstica Simone Martins, 35, concorda que as despesas com comida aumentaram, e também cita as contas de água e luz. “O salário aumenta, mas os gastos também.”
O ICV (Índice de Custo de Vida), que mede a variação nos gastos em itens básicos, aponta alguns dados nesse sentido. Nos últimos dez anos, as despesas das famílias paulistanas com alimentação aumentaram 96%, ou seja, praticamente dobraram. No mesmo período, a inflação média em todo o país foi menor que isso, na casa dos 70%.
Para o professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Samy Dana, os altos preços na capital paulista, em comparação com outras localidades do país, são decorrência do fato de que “a média salarial em São Paulo é superior ao do resto do país”. Segundo Dana, “o poder de compra do paulistano é equivalente ao de habitantes de outros lugares, em alguns casos, superior.”
Poder de compra
No entanto, Dana faz a ressalva de que alguns ramos, nos quais há poucas empresas atuando e pouca competição, tendem a garantir altas taxas de lucro cobrando altos preços. Seriam os casos de eletroeletrônicos, internet e serviços de telefonia. Isso impactaria no custo de vida, mas não especificamente no caso paulistano, mas de todo o país.
Para Patrícia Lino Costa, economista responsável pelo setor de preços do Dieese, a desigualdade é um problema que interfere no custo de vida. “O problema é maior para quem está abaixo da média, que é boa parte da população”, diz.
A percepção de que alimentação tem custado mais está relacionada também às diferenças sociais, segundo Costa. “Os mais pobres gastam 40% dos seus rendimentos com alimentação. Os mais ricos, 26%. Quando os gastos com comida aumentam, os pobres sentem mais no bolso. Somando com habitação, transporte e saúde, os mais pobres gastam 84% do que recebem.”
A economista destaca que desde 2007 há uma política de revalorização do salário mínimo, que passou a crescer com base no aumento do PIB (Produto Interno Bruto), o que melhora a vida das pessoas e seu poder de compra.
Estimativas do Dieese apontam que a distância entre o salário mínimo nominal, aquele que é pago aos trabalhadores, e o necessário, valor que se deveria ganhar para realmente cobrir todas despesas, diminuiu. Há dez anos, o valor do mínimo necessário (R$ 1.468) era seis vezes maior que o nominal (R$ 260). Hoje é apenas quatro vezes, sendo avaliado em R$ 2.748, para um mínimo de R$ 724.