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Quem poderia imaginar, por volta de 1990, a possibilidade de ouvir emissoras brasileiras em qualquer ponto do planeta? No entanto, a internet e o celular tornaram realidade esse velho sonho.
Considere agora o novo potencial dos telefones celulares avançados, leitor: 20% dos 5,4 bilhões de telefones celulares em serviço existentes no mundo são smartphones, com capacidade de recepção de rádio FM e/ou AM. Isso equivale a 1,08 bilhão de celulares capazes de sintonizar emissoras de rádio.
Esse número supera largamente o total de 850 milhões de receptores de rádio dedicados ou tradicionais existentes no mundo, segundo estimativa da União Internacional de Telecomunicações (UIT). Por outras palavras: o mundo tem hoje mais receptores de rádio embutidos em celulares do que receptores tradicionais, em carros ou residências. Da mesma forma, existem mais câmeras fotográficas embutidas em celulares do que câmeras dedicadas.
Rádio via web
Em 10 anos, a tendência é de que o número de celulares com capacidade de recepção de rádio deverá triplicar. Isso significa que a maioria esmagadora dos receptores sintonizará emissoras de todo o planeta, graças a uma tecnologia cujo nome, ainda não padronizado, poderá ser Web Rádio (ou WebRadio), Rádio IP ou Radio sobre protocolo IP (RoIP).
Em 10 anos, a tendência é de que o número de celulares com capacidade de recepção de rádio deverá triplicar. Isso significa que a maioria esmagadora dos receptores sintonizará emissoras de todo o planeta, graças a uma tecnologia cujo nome, ainda não padronizado, poderá ser Web Rádio (ou WebRadio), Rádio IP ou Radio sobre protocolo IP (RoIP).
A digitalização do rádio em transmissão aberta ou radiodifusão (broadcasting), como todos sabem, ainda enfrenta diversos problemas e obstáculos, no Brasil e no mundo. Esse fato torna a internet, a partir dos anos 1990, uma das opções mais promissoras para o rádio do futuro, pois oferece uma alternativa à digitalização tradicional, ao utilizar a teia mundial e, em especial, o protocolo IP.
O ano de 2010 marca o retorno vitorioso dos tablets. Além da mobilidade, a popularização desses dispositivos nos deverá possibilitar a sintonia de um número praticamente ilimitado de emissoras. É que já disponho em meu desktop, utilizando o software iTunes, da Apple, programa gratuito que me permite ouvir entre mais de mil emissoras – uma centena de rádios que só tocam música clássica, ou outras dedicadas exclusivamente a jazz ou música popular internacional. É claro que existem dezenas de alternativas ao iTunes, como os da Nokia, da Microsoft e do sistema operacional Android.
Um livro essencial
Para quem quer aprofundar seus conhecimentos sobre essa nova geração tecnológica de rádio, recomendo o excelente livro da professora Nair Prata, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também é jornalista com larga experiência profissional em radiodifusão.
Para quem quer aprofundar seus conhecimentos sobre essa nova geração tecnológica de rádio, recomendo o excelente livro da professora Nair Prata, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também é jornalista com larga experiência profissional em radiodifusão.
Com o título de Webradio, Novos Gêneros, Novas Formas de Interação (Ed. Insular, Florianópolis, 2009, R$ 44), o livro da professora Nair Prata é resultado de pesquisa que envolveu 30 emissoras de rádio, divididas em três grandes grupos: a) hertzianas; b) hertzianas com presença na internet; e c) web radios. Em cada um dos três grupos, foram estudadas duas categorias de análise – gênero e interação e, como parte do estudo da interação nas webradios, foi feito estudo sobre a usabilidade das homepages.
Além de discutir os aspectos teóricos, a jornalista analisou rigorosamente o conteúdo da pesquisa de campo e identificou novos gêneros surgidos no webradio, em meio genuinamente digital: chat, e-mail, endereço eletrônico, enquete e fórum, além dos tradicionais gêneros radiofônicos hertzianos. O webradio pode ser entendido, portanto, como uma constelação de gêneros, que abriga formatos antigos, novos e híbridos, nascidos da complexa tessitura digital desse novo rádio.
Como a web é um ambiente heterogêneo, que permite a introdução de novos recursos audiovisuais colocados à disposição de seus usuários, tanto pelo rádio hertziano como pelos webradios, graças a várias ferramentas interativas com o objetivo de atrair e fidelizar seu público. “A principal delas – frisa Nair Prata – é o próprio site, basicamente polifônico, marcado por vozes e outros recursos sonoros, como no rádio hertziano, mas, também, visualmente enriquecido por textos e imagens”.
Todas essas mudanças vão determinar uma nova maneira de se fazer rádio, bastante diferente das atuais formas: “Hoje o conteúdo radiofônico é fruto do trabalho de profissionais que conhecem e se relacionam com os novos meios, e que poderiam ser chamados de imigrantes digitais. O público também ainda é imigrante digital. Daqui a alguns anos, porém, as gerações genuinamente digitais passarão a ter acesso às mídias e irão desejar novos formatos de programação e novas formas de se interagir com o veículo. Será que os profissionais de radiofonia de hoje estão preparados para lidar com esta nova linguagem e este novo público que se avizinha?”.
Os rádios digitais
Vivi duas experiências interessantes sobre rádio digital, em viagem recente aos Estados Unidos: uma ótima e outra ruim. Começo pela boa experiência. É provável que o leitor tenha conhecimento dos serviços de rádio digital por assinatura via satélite. As duas empresas que exploravam esses serviços nos Estados Unidos, desde 2003, fundiram-se em 2007. A primeira era a XM, com 170 canais, programação totalmente diversificada, com música pop, jazz, clássico, ópera, notícias, esportes, serviços e outros. A segunda era a Sirius, com 193 canais e programação igualmente diferenciada.
Vivi duas experiências interessantes sobre rádio digital, em viagem recente aos Estados Unidos: uma ótima e outra ruim. Começo pela boa experiência. É provável que o leitor tenha conhecimento dos serviços de rádio digital por assinatura via satélite. As duas empresas que exploravam esses serviços nos Estados Unidos, desde 2003, fundiram-se em 2007. A primeira era a XM, com 170 canais, programação totalmente diversificada, com música pop, jazz, clássico, ópera, notícias, esportes, serviços e outros. A segunda era a Sirius, com 193 canais e programação igualmente diferenciada.
Meu primeiro contato com o rádio digital via satélite ocorreu logo que as duas empresas decidiram fundir-se, numa viagem de carro, na Califórnia. Há poucos meses, repeti a experiência, comprovando a evolução dos serviços, com canais regionais exclusivos para apoio e orientação dos viajantes, informações sobre situação das estradas, sobre eventuais acidentes, localização de postos de gasolina, restaurantes, hotéis e outros serviços.
Os serviços da nova empresa, a XM-Sirius, passaram a ser rentáveis no ano passado, especialmente depois que a indústria automobilística decidiu apoiar o projeto, incorporando o receptor de rádio via satélite aos carros novos de melhor padrão. Ambas operadoras cobram uma mensalidade de US$ 13,95, sem qualquer limitação de uso.
No pequeno receptor acoplado ao rádio do carro, são mostradas informações sobre a música, autor e intérprete. A qualidade de som equivale à dos melhores CDs. Nenhuma interferência, tudo límpido, para satisfazer até o ouvinte mais exigente de música clássica.
Broadcasting
Bem menos positiva foi minha experiência com o rádio digital das emissoras abertas, em AM e FM, com o uso do padrão In Band on Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity. Nesse padrão, o mesmo programa é transmitido simultaneamente, no mesmo canal, tanto no modo analógico quanto no digital.
Bem menos positiva foi minha experiência com o rádio digital das emissoras abertas, em AM e FM, com o uso do padrão In Band on Channel (Iboc) ou HD Radio, criado pela empresa Ibiquity. Nesse padrão, o mesmo programa é transmitido simultaneamente, no mesmo canal, tanto no modo analógico quanto no digital.
Em AM, o padrão Iboc é inaceitável, porque produz interferências e ruídos incontroláveis. O maior problemaé a sua falta de estabilidade ou homogeneidade. Ironicamente, alguns radiodifusores dizem que “ele é ótimo, quando funciona”. Ouvindo algumas emissoras norte-americanas, pude comprovar que o melhor resultado ocorre nas cidades pequenas, em regiões planas e sem grandes obstáculos. Várias emissoras de AM desligam o sistema digital à noite para evitar interferências.
Em FM, ocorre, entre outros, o problema do atraso (delay) de 8 segundos do sinal digital, em relação ao analógico. Como o alcance do sinal digital é menor do que o analógico, nos limites de sua propagação, a sintonia oscila entre um e outro, com grande desconforto para o ouvinte.
É bom lembrar que, das quase 15 mil emissoras de rádio dos Estados Unidos, apenas 10% aderiram ao sistema híbrido Iboc, quase 7 anos após sua introdução naquele país. Muito menor ainda é a proporção de usuários que decidiram adquirir um receptor digital, cujo menor preço oscila entre US$ 130 e 150.
No mundo
A introdução do rádio digital tem sido um desafio em todo o mundo. Para que a tecnologia pudesse produzir o melhor resultado seria necessário criar uma faixa de freqüência exclusiva para as transmissões digitais. Essa estratégia exigiria a troca de todos os receptores analógicos por receptores digitais.
A introdução do rádio digital tem sido um desafio em todo o mundo. Para que a tecnologia pudesse produzir o melhor resultado seria necessário criar uma faixa de freqüência exclusiva para as transmissões digitais. Essa estratégia exigiria a troca de todos os receptores analógicos por receptores digitais.
A idéia de usar o mesmo canal para transmissões analógicas e digitais, adotada pela empresa Ibiquity, parecia ser, em princípio, a grande saída. Mas essa tecnologia ainda não está madura e apresenta os problemas descritos aqui. Na Europa, são propostas novas faixas de frequência exclusivas para o rádio digital, o que, no entanto, obriga à troca geral dos receptores.
Numa entrevista que me concedeu em 2008, em Helsinqui, a ministra das Comunicações da Finlândia, Suvi Lindén, disse que não acreditava na viabilidade prática da migração da tecnologia analógica de rádio para a digital. “O problema é a exigência de se trocar tudo – equipamentos das emissoras e receptores dos ouvintes. Isso exigiria até a mudança de faixa de frequências e a interrupção das atividades das emissoras Nem o padrão europeu nem o norte-americano satisfazem. No futuro, as transmissões de rádio serão todas via internet ou associadas à TV digital”.