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Vinicius Mansur,
De Brasília (DF)
De Brasília (DF)
O diretor geral das Confecções Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzáles, e o diretor global do Grupo Inditex – do qual a empresa espanhola faz parte – Jesus Echevarria compareceram à audiência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (15), para explicar o envolvimento da Zara com a exploração de trabalho análogo à escravidão, sobretudo, de trabalhadores bolivianos.
Com reiterados e envergonhados pedidos de desculpa, Gonzáles e Echevarria alegaram que a produção da Zara foi desviada, por seus fornecedores, a oficinas de costura que utilizam trabalho análogo à escravidão sem conhecimento da empresa. Eles também anunciaram algumas medidas para combater tamanha exploração de trabalhadores, entre ela, o lançamento de uma linha de telefone ( 0800 77 09 242 ) para denúncias de irregularidades, com supervisão do Instituto Ethos.
Durante a audiência, o auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) e coordenador da investigação que incriminou a Zara, Luís Alexandre de Faria, relatou outros casos de descoberta de trabalho análogo à escravidão na indústria têxtil. Todos eles caracterizados por pequenas oficinas trabalhando exclusivamente para grandes empresas varejistas, como a Marisa, Collins e Pernambucanas. “Há um modelo de negócio que permite esse tipo de situação e precisa ser mudado”, afirmou.
No caso da Zara, o auditor fiscal afirmou que há pessoas que trabalharam mais de 400 horas por mês, produziram 137 peças, ganhando R$ 2 por cada uma delas. Peças idênticas foram encontradas nas lojas custando R$ 139.
As imagens e dados apresentados por Faria indignaram os deputados. “A Zara tem é que ajoelhar e pedir mais e mais desculpas (…) Que a Zara dê uma declaração a favor da PEC 438/2001 que expropria os realizadores de trabalho escravo”, bradou Domingos Dutra (PT-MA).
Érika Kokai (PT-DF) considerou um absurdo que “uma marca que se coloca abaixo dos marcos civilizatórios” continue atuando normalmente. “A terceirização, quarteirização não diminuem sua responsabilidade”, atacou.
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) perguntou à mesa como os trabalhadores foram reparados. Faria afirmou que a Zara pagou apenas as obrigações determinadas pela legislação trabalhista brasileira, como salários dignos, horas extras e fundo de garantia. “Mas não pagaram nada por dano moral, cujo valor pode ser muito mais alto”. O auditor fiscal também afirmou que os bolivianos já ganharam carteira de trabalho – o primeiro documento brasileiro deles – e acesso ao seguro desemprego. Já os representantes da Zara afirmaram que a empresa está conversando com as famílias dos “escravizados” para dar-lhes novas indenizações.
Perguntado por Jean Willis (Psol-RJ) sobre o motivo da super-exploração recair preferencialmente sobre bolivianos, Faria apontou que, no entendimento do Ministério do Trabalho, há uma forte ligação com a origem indígena destes trabalhadores. “São povos tradicionalmente explorados. Mas as multas mais pesadas sobre a Zara foram justamente por discriminação”, disse.