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Os salários voltaram a vencer com folga a inflação em 2011, com ímpeto menor do que no anterior – reflexo da menor atividade econômica e da inflação mais alta – e um desafio ainda a superar: aumentar a participação do trabalho na renda nacional. No balanço das negociações feitas no ano passado, o Dieese mostrou que 86,8% dos 702 acordos analisados resultaram em reajuste superior à variação da inflação medida pelo INPC-IBGE. Outros 7,5% foram fechados com índice equivalente ao da inflação, enquanto 5,7% ficaram abaixo do INPC. Os números são próximos aos de 2010. Foi o terceiro melhor resultado da série histórica, iniciada em 1996 – ficou abaixo apenas de 2010 (88,2% acima da inflação) e 2007 (87,7%).
“É um resultado extremamente positivo, se considerarmos essa conjuntura”, observou o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira. Ele lembrou que 2011 teve “o maior PIB dos últimos 26 anos”, com crescimento de 7,5%, enquanto 2011 fechou com alta de 2,7%. E a inflação cresceu em média dois pontos percentuais de um ano para o outro.
Isso fez, por exemplo, com que os aumentos reais tivesse magnitude menor. Em 2010, aproximadamente 16% dos acordos tiveram aumento real (além da inflação) acima de 3%. No ano passado, foram 9%. Os aumentos reais de até 2% passaram 55% para 62%. Considerando todos os acordos, o aumento real médio passou de 1,68% para 1,38%. O maior índice de aumento no ano passado foi de 9,36%, ante 10,91% em 2010. A maior perda passou de -3,31% para -3,93%.
O técnico do Dieese vê para este ano um cenário semelhante, com a perspectiva de crescimento do mercado interno e de queda da taxa de juros, além da inflação mais próxima do centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Além disso, a expectativa é de alta do PIB superior à de 2011, entre 3,5% e 4%.
Mesmo o chamado processo de desindustrialização não terá tanto reflexo nas negociações coletivas, analisa Silvestre. Ele observa que, apesar dos aumentos reais, os salários ainda estão aquém do crescimento da produtividade. “Os ganhos salariais médios dos últimos anos estão muito abaixo do PIB, estão muito aquém do crescimento médio da economia”, observa. “O fato é que a participação da renda no trabalho não aumentou.”
Entre os setores, a indústria fechou 2011 com 90,4% dos acordos com reajuste acima do INPC, o comércio teve 97,3% e os serviços, com 76,3%. O resultado da indústria foi semelhante ao de 2010, mas também com menor intensidade de aumentos reais. Os reajustes com até 2% acima da inflação passaram de 52% para 59%, enquanto aqueles com 3% ou mais foram de 17% para 12%. Segmentos como a da construção e mobiliário (80 acordos), papel, papelão e cortiça (11) e extrativista (nove) tiveram 100% de reajustes além do INPC.
Das 702 negociações pesquisadas, 604 (86%) referem-se a convenções coletivas (basicamente, por categoria ou setor) e, 98, a acordos (que podem se limitar a uma empresa). Mais de um quarto (26,1%) concentra-se em maio, mês em que categorias como as de trabalhadores na construção civil e transportes têm data-base. Outras 87 são de março (professores). O segundo semestre, entre agosto e outubro, concentra as campanhas de categorias como bancários, metalúrgicos, químicos e petroleiros.