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Especialistas nucleares disseram que as soluções propostas para conter os vazamentos de radiação no complexo foram medidas desesperadas para conter essa que já é uma das piore catástrofes industriais da história (Foto: Asahi Shimbun/Reuters)
Um helicóptero fracassou na tarefa de jogar água no reator mais problemático. Jatos de água usados para conter protestos devem ser usados em uma tentativa desesperada de resfriar o combustível nuclear de um dos reatores.
No início do dia, um novo incêndio atingiu a usina, danificada pelo terremoto de sexta-feira (11), e que, nas últimas horas, emitiu níveis baixos de radiação para Tóquio, causando medo na capital e alerta na comunidade internacional.
“Isto é um pesadelo em câmera lenta”, disse o físico Thomas Neff, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Especialistas nucleares disseram que as soluções propostas para conter os vazamentos de radiação no complexo foram medidas desesperadas para conter essa que já é uma das piore catástrofes industriais da história.
O imperador Akihito, num raro pronunciamento em vídeo ao povo japonês, se disse profundamente preocupado com a crise nuclear do país, “numa escala sem precedentes”. “Espero do fundo do meu coração que as pessoas, de mãos dadas, se tratem com compaixão e superem esses momentos difíceis”, disse o imperador.
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), Yukiya Amano, anunciou que irá embarcar nesta quinta-feira (17) para o Japão a fim de buscar informações de primeira mão sobre a “seriíssima” situação da usina nuclear de Fukushima.
“É diferente receber dados por e-mail de Tóquio ou sentar com eles e trocar pontos de vista”, afirmou Amano, que é japonês, em entrevista coletiva. “Nós sempre precisamos melhorar o fluxo de informação”, afirmou, acrescentando que espera reunir altos funcionários japoneses, mas que não está decidido se ele irá à usina, danificada durante o terremoto de sexta-feira no país.
Apesar da sua crescente preocupação, Amano disse que não é o momento de dizer se a situação está fora do controle, conforme sugeriu um alto funcionário europeu em declarações que derrubaram as bolsas. “Os operadores estão fazendo o máximo para restabelecer a segurança do reator.”
Situação crítica
O governo do Japão disse que os níveis de radiação fora do terreno da usina permanecem estáveis. “As pessoas não estariam em perigo imediato se saíssem de casa com esses níveis. Quero que as pessoas entendam isso”, disse a jornalistas o chefe de gabinete do governo, Yukio Edano. O alvo do apelo foi a população que vive além da zona de exclusão de 30 quilômetros em torno da usina. No interior desse raio, cerca de 140 mil moradores foram orientados a ficarem em casa.
Os trabalhadores estão tentando retirar destroços e construir uma estrada para que os carros de bombeiros possam chegar ao reator número quatro do complexo de Daiichi, em Fukushima, a 240 quilômetros ao norte de Tóquio.
Os altos níveis de radiação impediram um helicóptero de voar para o local a fim de jogar água no reator número três – cujo teto foi danificado por uma explosão anterior, e onde no começo do dia era possível ver uma nuvem de vapor.
A Tokyo Electric Power, empresa responsável pela usina, informou que o reator número três é a “prioridade”. Nenhuma outra informação está disponível, mas sabe-se que se trata do único reator da usina que usa plutônio como combustível. O plutônio é considerado muito tóxico para os seres humanos por poder permanecer por anos na medula óssea ou no fígado, além de causar câncer.
O diretor adjunto da AIEA para questões de segurança, Denis Flory, disse que a agência não teve acesso a nenhuma medição sobre vazamentos de plutônio. “O plutônio não é uma preocupação a esta altura”, disse ele. A imprensa japonesa tem feito críticas à ação do governo diante da crise, e à operadora pela falta de transparência nas informações.
A situação no reator número quatro, onde o incêndio começou, não era “tão boa,” segundo a operadora da usina, e há água sendo lançada nos reatores cinco e seis, indicando que todos os seis reatores da usina estão agora sob risco de superaquecimento.
Socorristas
A principal agência reguladora nuclear dos Estados Unidos afirmou ao Congresso do país que os níveis de radiação ao redor da usina nuclear do Japão podem ameaçar de forma letal os agentes de emergência. “Acreditamos que nos arredores do reator há altos níveis de radiação”, afirmou o diretor da Comissão Reguladora Nuclear, Gregory Jaczko, durante audiência do Subcomitê de Comércio e Energia da Câmara dos Deputados.
“Seria muito difícil para os agentes de emergência chegar perto dos reatores. As doses a que eles poderiam ser submetidos seriam potencialmente letais num curto período de tempo.” Jaczko disse que a agência reguladora tinha informações muito limitadas sobre o que estava acontecendo na usina de Fukushima, no Japão, e que não queria especular muito sobre o assunto.
Com informações da Reuters