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Dirigentes do PT reconheceram, nesta quinta-feira (7), a possibilidade de descentralizar a coordenação da campanha, incluindo lideranças de outros partidos. José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT reconhece que houve “excessiva concentração” na condução da estratégia para a eleição da candidata à Presidência da República Dilma Rousseff.
As declarações foram dadas ao final de reunião da executiva nacional da legenda, realizada com o objetivo de fazer um balanço das eleições de primeiro turno e traçar as táticas para a disputa presidencial no segundo turno. Dutra, classificou a onda de boatos de “guerra suja”.
“Temos uma proposta, que vamos apresentar a todos os partidos, que é um manifesto chamando a militância para evitar e repelir esta verdadeira guerra suja que está sendo feita por alguns setores, tentando inclusive colocar temas religiosos como centro de uma disputa eleitoral”, disse Dutra, ao deixar a reunião.
Ele se referia a dúvidas lançadas por e-mails e em blogs sobre a questão do aborto e da liberdade religiosa, temas presentes na última semana de campanha no primeiro turno e ainda chamam a atenção nos meios políticos. “Isso é ruim para o Brasil, até porque o Brasil é um país que se caracteriza pela tolerância, que se caracteriza pela pluralidade”, afirmou Dutra.
Embora a imprensa tenha dado destaque à questão do aborto durante a campanha, já existe legislação sobre o tema e eventuais mudanças só podem ser feitas pelo Congresso. A mudança da legislação não está entre as atribuições do presidente da República. Atualmente, a prática do aborto é crime previsto pelo Artigo 127 do Código Penal, que estabelece duas exceções: casos em que a gravidez represente risco de vida para a mulher ou gravidez motivadas por estupro.
Segundo o presidente do PT, durante a campanha, ficou clara a posição de Dilma sobre o aborto: ela disse que não encaminharia ao Congresso nenhuma proposta de alteração da legislação e que, se fosse eleita, seu governo trataria o assunto como uma questão de saúde pública.
“Dilma disse que é contra o aborto porque considera a prática uma violência contra a mulher, mas defende o tratamento da questão como sendo de saúde pública. Aliás, esse é um tema em que não existe diferença entre Serra (candidato do PSDB) e Dilma. Existe uma legislação, e Dilma não vai propor mudança nela.”
Dutra informou que o PT vai pedir que a Polícia Federal investigue a origem de um panfleto com ataques a Dilma, distribuído ontem em Brasília durante evento com Serra e aliados do PSDB. Assinado pelo Instituto Plínio Correia de Oliveira, o fundador da organização católica Tradição, Família e Propriedade (TFP), o panfleto acusava Dilma e o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) de atentar contra a liberdade religiosa no Brasil.
Participação
De acordo com Dutra, na próxima semana, o PT lança um programa de governo que inclui contribuições de todos os partidos que apoiam a candidatura de Dilma. “O programa está praticamente pronto e contempla um compromisso de todos os partidos da aliança com a liberdade, a democracia, a liberdade de expressão e o Estado laico.”
Ele reconheceu que houve “uma certa centralização” das decisões de campanha em membros do PT no primeiro turno. “Aliás essa reclamação não é só do PMDB. Eu acabei de sair de uma reunião do PT onde há reclamações por parte de companheiros do PT de uma excessiva centralização”, acrescentou.
O PMDB, principal partido da coligação de dez siglas que apoia a candidatura petista, reclamou, no dia anterior, de ter sido alijado do comando da campanha no primeiro turno. A principal legenda aliada do PT na coligação cobrou mais espaço na campanha e prometeu mais empenho na campanha.
Questionado sobre eventual apoio da ex-presidenciável Marina Silva (PV), Dutra afirmou que a campanha gostaria de ter a oportunidade de debater formalmente o apoio, “mas respeita o tempo da Marina, o tempo do PV”.
Candidata
Mais cedo, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, lembrou que a posição da candidata é expressa diariamente em entrevistas à imprensa. “O maior compromisso formal é a fala da nossa candidata”, desconversou Padilha. “As propostas estão na rua, nossa candidata fala todo dia de propostas”, completou.
Questões como o aborto e liberdade de imprensa vem sendo usadas pela oposição em um debate qualificado como “de baixo nível” pela campanha petista. A oposição acusa Dilma e o PT de serem favoráveis ao aborto e de terem posturas de cerceamento da liberdade de imprensa.
Tanto a candidata quanto lideranças da legenda alertam que a interrupção da gravidez diz respeito ao Congresso Nacional, ao passo que a liberdade dos meios de comunicação é assegurada e defendida pelos ativistas.
Para ele, a publicação de informações sobre o suposto apoio da ex-ministra da Casa Civil ao aborto é a reedição de “mentiras” divulgadas em 2002, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito. “Em 2002, havia muitas mentiras e boatos em relação ao presidente Lula. Ao longo desses oito anos, provamos que esses boatos não eram verdadeiros. Alguns tentam a mesma tática de reinventar as mentiras e boatos”, afirmou Padilha.
Ele insistiu que há coincidência de pontos de vista em vários temas: os dois candidatos defendem a liberdade e a tolerância religiosa, a ideia de paz e da boa convivência e têm a mesma posição sobre o aborto. Ambos já apresentaram proposição e são contra o aborto. “A nossa candidata Dilma já falou claramente que considera o aborto uma violência contra a mulher. Não é um prazer nenhum para qualquer mulher sofrer isso. Essa é uma posição que não diferencia os dois candidatos”, concluiu Padilha.
Na campanha para o segundo turno, segundo ele, não serão enfatizados pontos em que há concordância entre as candidaturas, como as questões do aborto da liberdade religiosa. As diferenças é que serão destacados pela campanha de Dilma. Entre os destaques está a política econômica defendida pelos candidatos.
Padilha destacou que, na quarta-feira (6), Serra criticou a condução da economia pelo atual governo e defendeu as privatizações ocorridas no governo anterior. “Está ficando explícito quais são as diferenças e qual vai ser o debate do segundo turno”, frisou Padilha.
“Nós não queremos reduzir a discussão sobre o futuro do Brasil, sobre o momento que nós vivemos, a questões de preconceito ou meramente a uma questão de utilização eleitoral de um sentimento religioso de determinados segmentos e setores”, afirmou o líder do PT na Câmara dos Deputados, Fernando Ferro, em referência à discussão sobre a legalização do aborto.