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Não dá para esperar mais um mês sem reajuste salarial. O poder de compra dos salários dos trabalhadores da Rede TV tem evaporado há 4 anos e a direção da empresa só está aguardando a mobilização dos radialistas, igual a outubro/2019, em que os trabalhadores impediram da empresa modificar as escalas de trabalho, que sumiam com as horas-extras. Agora, reascende na Rede TV o mesmo movimento, que irá conquistar a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho – ACT, e garantir o dinheiro nas contas bancárias dos trabalhadores. Não tenham dúvidas do que uma mobilização forte, organizada e em conjunto com o Sindicato, poderá trazer não só o reajuste salarial para todos, mas também o pagamento do PPR e mais de 50 cláusulas como estabilidade nmo emprego da gestante e pré-aposentadoria, quinquênio, hora extra a 100%, auxílio creche entre tantos outros benefícios os trabalhadores da Rede TV tem direito histórico.
Na Rede TV há quem faz uma comparação do servilismo com a condição da escravidão moderna, em que os trabalhadores, mesmo lhes sendo tomado direitos, não entendem que sua subserviência caminha para uma situação de escravidão. Situação bem retratada no livro “Escravidão” (volume 2), do jornalista Laurentino Gomes. A obra do escritor não é uma obra de ficção, mas lampeja semelhanças, obviamente sem nomes, nem pessoas, mas que é possível notar fatos ou situações da vida real, que deixa uma pergunta no ar; será isso mera coincidência”? Entenda a história:
Escravidão passada e moderna
Um caso famoso de fuga de escravos, seguida de negociação, aconteceu no final do século XVIII em Ilhéus, no sul da Bahia. O engenho Santana, de propriedade de Manuel da Silva Ferreira e fundado e ainda no século XVIII, tinha trezentos cativos. Em 1789 (curiosamente, o mesmo ano da Revolução Francesa e da inconfidência Mineira), um grupo de escravos sob a liderança do ”cabra” (mulato ou mestiço) Gregório Luiz fugiu, depois de matar o mestre de açúcar. Sem mão de obra, o engenho ficou parado durante dois anos, até que, sob pressão das autoridades policiais, os fugitivos decidiram propor um ”tratado de paz” ao dono do engenho, no qual listava dezenove preocupações e reivindicações. Na história do Brasil, esse é um dos raros documentos em que os escravos falam diretamente, sem intermediários, sobre condições em que viviam no cativeiro, suas reivindicações, desejos e expectativas. Treze das demandas apresentadas diziam respeito às condições de trabalho, como o número mínimo de escravos destacado para determinada tarefa, a redução em 30% da cota diária de cana, que eram obrigados a cortar ou que, o volume de mandioca a ser colhido pelas mulheres, fosse pelo menos 20% inferior ao exigido dos homens. As outras reivindicações diziam respeito à própria sobrevivência, às folgas semanais e ao direito de revender no mercado o que conseguissem produzir pelos seus próprios meios em hortas que lhes seriam destinadas pelo senhor do engenho.
Terminavam pedindo que pudessem ”jogar, descansar, cantar e dançar ”quando bem quisessem, sem prévia autorização do senhor. Curiosamente, no documento os fugitivos em momento algum questionaram o cativeiro. Ao contrário, aceitavam retornar ao engenho na condição de escravos e sob a ordens dos feitores. Exigiam apenas que, antes, os antigos feitores, que acusavam de maus- tratos, fossem demitidos e novos fossem eleitos mediante a aprovação deles.
Também não reivindicam o fim dos castigos. Pediam, isso sim, melhores condições de trabalho. O plano fracassou porque o sistema escravista jamais permitiria tal negociação. Manuel da Silva Ferreira, o dono do engenho, fingiu aceitar as propostas, mas, na volta dos fugitivos, mandou o líder Gregório para a cadeia e vendeu os demais para o Maranhão. E assim a vida logo voltou ao normal no engenho Santana.
Fonte: livro Escravidão (volume 2) Autor: Laurentino Gomes. Globo Livros