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Presidente do Sindicato Ruralde, Márcio Morgatto,
filma manifestantes com caneta “espiã” – Foto: Neppy Divulgação
Lideranças indígenas do Conselho da Aty Guasu (organização de representação política Guarani Kaiowá) denunciaram as ameaças de morte feitas na tarde desse domingo (27) enquanto passavam por uma estrada próxima ao acampamento Pyelito Kue-Mbarakay, vizinho aos municípios de Tacuru e Iguatemi, na região sul do estado do Mato Grosso do Sul.
A ameaça foi presenciada pelo secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, e pelo representante da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Thiago Garcia. Eles retornavam de uma Aty Guasu (grande reunião) com mais de 100 lideranças Guarani Kaiowá, ocorrida pela manhã, no acampamento Pyelito Kue-Mbarakay, alvo de violência constante por parte de pistoleiros.A ameaça partiu de quatro homens. Um deles é o presidente do Sindicato Ruralde Iguatemi, Márcio Morgatto. Segundo nota divulgada pelos índios, os homens são fazendeiros da região.
“Vamos queimar esses ônibus com índios! Índios vagabundos! Ficam invadindo fazendas”, disse um dos homens, enquanto filmava os participantes da Aty Guasu. Os fazendeiros estavam acompanhados por outros dois homens. Eles utilizavam máquinas fotográficas e uma caneta “espiã” apontadas para os indígenas. Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública, que acompanhavam a comitiva da Presidência da República, tentaram conversar com os ameaçadores.
“Recebi orientação da Roseli do CNJ para fazer isso, cercar os senhores e filmar e tirar fotos. Isso não vai ficar assim não! Esses índios vão pagar pelos seus atos, invasores das fazendas! Por isso tiro fotos… Ninguém pode com nós! Nós que mandamos aqui. Vai acontecer do jeito que nós queremos, nunca vamos deixar os índios e nem a Funai invadir fazendas”, afirmou um dos homens.
O prefeito de Iguatemi, José Roberto Arcoverde (PSDB), foi chamado pelos fazendeiros e compareceu ao local. A pedido dos indígenas, as fotos foram apagadas pelos integrantes da Força Nacional. Já a caneta espiã que filmou as lideranças foi levada embora por um dos fazendeiros antes que as imagens fossem apagadas.
“Diante disso, pedimos a todas as autoridades, com urgência, que tomem providências legais cabíveis em relação ao caso, em que houve ameaça de morte anunciada pelo prefeito e pelo presidente do Sindicato Rural”, reivindicam em nota os Membros do Conselho da Aty Guasu.
“O fato ocorrido demonstra a total inexistência de limites por parte desse setor anti-indígena no estado do Mato Grosso do Sul. Se essas pessoas não se intimidam, em plena luz do dia, nem mesmo diante de agentes armados da Força Nacional de Segurança, o que são capazes de fazer, à noite, a indígenas desarmados que vivem em acampamentos e barracos sem o mínimo de proteção e segurança?”, indagou Cleber Buzatto, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Terra sem lei
Comitiva do governo e Força Nacional no acampamento Pyelito Kue-Mbarakay – Foto: Neppy Divulgação |
O acampamento Pyelito-Kue Mbarakay, localizado na beira da estrada que liga os municípios de Tacuru e Iguatemi, foi atacado por pistoleiros em 23 de agosto desse ano e seus integrantes são alvos constantes de ameaça de morte. A situação foi relatada ao governo. “Todas as noites há tiros de arma de fogo em torno do acampamento, não há segurança. Além disso, no acampamento, não há assistência à saúde e educação”, dizem os Guarani Kaiowá em nota.
Durante a assembleia, os indígenas reivindicaram ao governo uma intervenção federal no Mato Grosso do Sul e a proteção às lideranças e comunidades ameaçadas por grupos paramilitares do estado.