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O presidente do Equador, Rafael Correa, declarou aos seus muitos partidários na noite desta quinta-feira (30) que não vai perdoar os policiais que se rebelaram contra o governo e que o mantiveram preso durante mais de dez horas no Hospital Policial Nacional, em Quito. O governante discursou na praça da Independência, próxima ao Palácio de Carondelet, sede do governo do país.
“- Este é o dia mais triste da minha vida, é o dia mais triste do meu governo. Não haverá perdão nem esquecimento.”
A declaração foi feita em referência aos policiais rebelados que teriam sido usados, segundo Correa, como massa de manobra para uma tentativa de golpe de Estado contra a Presidência equatoriana. Durante o período em que foi mantido no terceiro andar do hospital, o presidente afirmou estar “sequestrado” e “temer pela sua vida”.
Dois policiais morreram em onda de violência
A Cruz Vermelha Equatoriana informou na madrugada desta sexta-feira (1º) que dois policiais morreram na operação de resgate de Correa. Os dois mortos foram levados ao mesmo hospital em que Correa foi supostamente detido. O resgate do presidente pelas Forças Armadas gerou violência entre os rebelados, os militares e populares que apoiam o governo.
Um dos policiais mortos, segundo o próprio Correa, é Froilán Jiménez, membro do Grupo de Operações Especiais (GOE) da polícia equatoriana. O nome da outra vítima não foi divulgado até o momento. Além dos agentes que morreram nos episódios de violência nos arredores do hospital, a instituição atendeu um número ainda não contabilizado de feridos, tanto do lado dos militares, quanto dos policiais que se rebelaram contra o presidente.
A União de Nações Sul-americanas (Unasul) expressou uma “enérgica condenação” contra a suposta tentativa de golpe de Estado contra o presidente equatoriano. A entidade decidiu marcar uma visita dos ministro das Relações Exteriores dos países-membros a Quito para expressar respaldo ao presidente equatoriano nas próximas horas.
Os líderes dos países da Unasul, reunidos em Buenos Aires, aprovaram uma declaração que “condena energicamente a tentativa de golpe de Estado e posterior sequestro de Rafael Correa” e ressalta a necessidade de que “os responsáveis do levante golpista sejam julgados e condenados”.
Presidente foi retirado em meio a tiroteio
O Exército equatoriano liderou a retirada de Correa do hospital, em meio a muito tumulto. Tiros e bombas de gás lacrimogêneo foram utilizados para dispersar os manifestantes das redondezas e permitir a saída do presidente. Testemunhas relataram que caminhões militares foram utilizados na operação.
A população também se envolveu no conflito. Apoiadores de Correa atiraram pedras contra os policiais rebelados, aumentando ainda mais a violência durante a operação de resgate. Com uma máscara no rosto, o presidente foi levado em seguida ao Palácio de Carondelet, onde foi recebido por apoiadores e fez um discurso.
– Não me deixaram sair. Cercaram todas as saídas do hospital. Na realidade, nas primeiras horas não podia sair porque tinha soro e porque estavam tratando a minha perna. Mas há algumas horas eu estava pronto para sair e não pude porque não desbloquearam as saídas. Obviamente, isso é sequestro, sequestraram o presidente.
O presidente equatoriano passou recentemente por uma operação no joelho e caminha com a ajuda de um andador.
Correa se nega a negociar
Correa foi agredido nesta quinta-feira pela manhã, quando foi a um quartel falar com policiais que protestavam contra o corte de benefícios previsto por uma lei destinada ao serviço público. Posteriormente, o presidente do Equador descartou qualquer diálogo com os policiais rebelados enquanto mantivessem a rebelião.
– Ninguém deu maior apoio à polícia do que este governo, ninguém aumentou os seus salários. Depois de tudo que fizemos por eles [policiais], eles fizeram isso. Esta suposta polícia nacional deveria se envergonhar. Não aceitaremos negociar nada sob pressão.
O governo do Equador declarou uma semana de estado de exceção na tarde desta quinta, colocando os militares como responsáveis pela segurança no país. As Forças Armadas declararam estar do lado de Correa e garantiram a “proteção das instituições democráticas”, em referência à suposta tentativa de golpe de opositores, que teria dado início aos acontecimentos das últimas horas.
– Os conspiradores sempre sequestram o presidente e, para libertá-lo, caíram irmãos equatorianos. É um dia de profunda tristeza que jamais pensei que pudesse acontecer no meu governo de paz (…) a polícia foi manipulada.
A declaração do presidente faz referência ao ex-presidente do país, Lucio Gutierrez, suposto incentivador do movimento dos rebelados. Em entrevista exclusiva à Rede Record, Gutierrez negou qualquer envolvimento na onda de violência.
Momentos de tensão no hospital
Durante o período em que esteve preso no Hospital Policial Nacional, Correa viveu momentos de terror, segundo palavras do próprio presidente. Ele teria sido impedido de sair e ainda se viu ameaçado pelos policiais rebelados, que tentaram entrar em seu quarto.
– Eles tentaram entrar no meu quarto, talvez para me atacar, não sei. Mas esqueçam, não vou me render. Se algo acontecer comigo, lembrem-se do meu amor infinito pelo meu país e pela minha família. Eu disse que os amarei para sempre, independentemente de onde estiver.
Do lado de fora e longe da confusão, a coordenadora do ministério da Política, Doris Solis, discordou do presidente e disse à rede CNN que o incidente não se tratava de um golpe de Estado.
Em outro ponto de Quito, um porta-voz da televisão estatal declarou que o estúdio de onde estava sendo feita toda a cobertura do tumulto foi invadido, após horas de tentativas dos policiais rebelados de impedir as transmissões. Momentos depois, a transmissão teve de mudar de local.
O Equador tem aproximadamente 58 mil oficiais nas Forças Armadas e 33 mil na polícia nacional.
Entenda o caso
A Assembleia Nacional aprovou na última quarta-feira (29) uma lei que, de acordo com os policiais rebelados, acaba com diversos bônus salariais e de carreira da categoria.
O presidente Correa, por sua vez, negou que isso seja verdade e culpou a imprensa e os opositores de informar o público de forma errada. Além disso, negou-se a atender ao pedido para que as novas regras fossem revogadas.