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onsiderado o mais grave da história do Japão, o terremoto provocou a morte de um número ainda incalculável de pessoas, além de colocar em risco os sobreviventes que vivem no entorno da usina.
Nesta segunda-feira (14), a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, anunciou que fará uma revisão na lei que estendeu o tempo de vida útil das centrais nucleares do país por mais 14 anos.
Em entrevista à Radioagência NP, o coordenador da campanha de energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo, analisa as possíveis consequências do acidente ocorrido no Japão. Ele revela que existem alternativas à energia nuclear mesmo nos países que não possuem grandes reservas naturais. Baitelo ainda expõe os motivos que o fazem desacreditar que o Brasil possa recuar no projeto de construir mais oito usinas nucleares nos próximos anos.
Ricardo, a energia nuclear é segura?
Radioagência NP: A energia nuclear, mais uma vez, mostrou que não é de forma alguma segura. Nós temos um número de eventos – de médios até drásticos – que aconteceram desde o começo da implantação das usinas e a gente pode dizer que, por mais que o risco de acidentes graves seja pequeno, quando ele acontece pode ter impactos muito graves. Mesmo com tecnologias mais seguras você está sempre sujeito a fenômenos naturais e a falhas humanas.
RNP: Qual o risco para a população que vive no entorna das usinas?
RB: As pessoas que vivem no entorno, na ocorrência de um acidente mais sério, estão expostas a câncer de tireóide e outros tipos de câncer, sendo que muitos deles não se manifestam imediatamente. A radiação se estoca no organismo humano e pode ser transmitida também para outras gerações.
RNP: O acidente nuclear ocorrido no Japão pode trazer uma nova mentalidade para os países que insistem no uso dessa tecnologia?
RB: Certamente já trouxe. Hoje tivemos a notícia de que a Alemanha já cancelou os planos de estender a vida útil de seus reatores. Isso estava sendo articulado há alguns anos e a chanceler Angela Merkel voltou atrás e disse que esses reatores não terão a vida útil prolongada. Isso só aumenta a segurança da população porque o acidente [no Japão] ocorreu num reator de 40 anos de idade. Então, essa sinalização a gente já tem e outros países da Europa já estão pensando qual será o encaminhamento de seus respectivos programas nucleares.
RNP: Por que tantos países optam por esse tipo de energia?
RB: Muitos países não têm uma ampla gama de recursos naturais para geração de energia, como é o caso do Brasil, e apostam na energia nuclear para a garantia de energia minimamente constante. Mas mesmo nesses países você pode ter uma resposta renovável, no entanto, historicamente o setor nuclear tem um braço militar, controla a utilização da energia e conseguiu emplacar em mais países.
RNP: No início do ano, o governo federal anunciou a intenção de construir mais oito usinas nucleares no Brasil. Você acredita num recuo?
RB: A posição do governo é que os investimentos na área nuclear não servem meramente à questão energética, que eles servem ao beneficiamento e à exploração da cadeia de urânio, uma vez que o Brasil tem um dos maiores potenciais de produção de urânio do mundo e poderia exportar esse combustível. Sem contar a questão militar, que é favorecida pela construção das usinas. Não se quer perder a tecnologia nuclear, que já sofreu baixa, com a desaceleração de muitos programas, de Chernobyl [Ucrânia] até hoje. Então, tem alas do governo que acreditam que o conhecimento científico não pode ser perdido e usam a construção de usinas como argumento para manter isso.
RNP: O Brasil precisa da energia nuclear?
RB: O Brasil tem um potencial gigantesco de energias renováveis, principalmente eólica, biomassa e solar. Daria para completar a matriz – que hoje é hidrelétrica – com todas essas outras opções. Não teria necessidade, não faria sentido colocar a população em risco com a construção dessas usinas, nem colocar todo esse impacto econômico sobre a população, considerando que a energia nuclear é um dos tipos mais caros de energia.
De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo.