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Pedro Carrano
De Campinas (SP)
Rostos de trabalhadores. Negros, jovens, mulheres, operários metalúrgicos, estudantes, reivindicam a centralidade da organização de base com a classe trabalhadora. Dos braços que produzem a riqueza na sociedade. O contexto é de intensificação da crise e demonstrações de resistências pelos trabalhadores e jovens de França, Inglaterra, Grécia. No Brasil, “a pergunta não é se vai ter crise, mas quando vai ter crise”, define Igor Grabois, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Neste sentido, o III Encontro da Intersindical, realizado em Campinas, pautou a proposta de lutas contra o capital por local de trabalho, moradia e estudo. Um processo que, na avaliação das organizações que compõem a Intersindical, antecede a criação de uma central sindical legalizada.
O manifesto de origem da Intersindical data de 2006 e hoje o instrumento agrega os trabalhadores dos seguintes ramos, entre direções, dissidências e oposições: metalúrgicos, têxteis, comunicação, bancários, funcionários públicos, químicos. Outros rostos que ali estavam eram de trabalhadores protagonistas em lutas em 2010, contra sindicatos aparelhados por dirigentes burocráticos ou mesmo pelo patronato, caso da luta dos trabalhadores da indústria do corte de carne de Chapecó (SC), que derrotaram a direção do Sitracarnes, há 22 anos a serviço da empresa Sadia.
Frente à crise instalada, o Encontro indica construir um dia nacional de lutas, convocando as organizações para uma unidade na ação, contra a retirada de direitos, expressada em projetos como a reforma trabalhista e da previdência. Os trabalhadores do funcionalismo público, a exemplo da Europa, tendem a ser protagonistas no próximo período.
Por local de trabalho
A organização por local de trabalho (OLT) é definida como um processo que remete ao final dos anos 1970 e que hoje deve ser retomado. “A OLT não é uma consigna, ou uma pauta de cada chapa, é um processo longo, difícil, complexo, o que qualifica a organização, capaz de fazer enfrentamentos de classe”, afirma Antonio Carlos Victorio, o “Jacaré”, da Intersindical.
Experiências como a luta do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de fiação e Tecelagem em Blumenau e Região (Sintrafite) demonstram as dificuldades do trabalho de base nas unidades de produção, marcadas pelo controle e repressão contra os operários. Maior sindicato de têxteis da América Latina, com uma base de 40 mil operários, a organização é impedida pelas empresas do ramo. As operárias, de acordo com Miriam Bertoldi, presidente do sindicato, são conduzidas de casa direto à unidade de produção, impedidas de conversar com as lideranças sindicais na porta das fábricas. O que demanda saídas como aproveitar cada brecha possível para a organização dos trabalhadores e a organização por local de moradia.
“Se queremos construir algo e reconstruir o movimento dos trabalhadores têm que ser com eles. E aí temos que recomeçar um trabalho de formiguinha que tivemos lá no passado, a partir do local de trabalho. É primeiro um trabalho de construção de conscientização”, afirma Florêncio Resende de Sá, o Sassá, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos.
Bandeira de luta
A redução da jornada de trabalho é um desafio para a classe como um todo. “Temos certeza que isso só virá através de mobilizações, sentimos isso claro nas fábricas, nos locais de trabalho, a vontade do trabalhador, pela situação enfrentada dentro da fábrica, onde é alta a produtividade e o aumento do assédio moral, até porque os empresários estão diminuindo o número de trabalhadores dentro dos locais de trabalho e atribuindo trabalho para os que ficam. O salário fica o mesmo, mas com a produtividade muito maior”, comenta a presidente do Sintrafite, Vivian Bertoldi.
Os dirigentes também apontam que a luta deve estar ao lado dos movimentos sociais. Para o bancário Leandro Spezia, da organização Consulta Popular, há a compreensão de que há formação, organização e luta de massas, porém enfatiza que as lutas de massas são uma tarefa permanente. “A luta de massas, essa não espera. Seja na fábrica, nos bairros, em algum momento temos que estar juntos com esses movimentos de luta de classes. É justamente neste momento”, afirma.
Crise é processo em andamento
A análise de conjuntura feita no III Encontro da Intersindical aponta que a crise iniciou na esfera da produção de valor, passa a manifestar no setor financeiro e, no último período, foi transferida para os estados nacionais. A recuperação da expansão da economia – após o auge da crise em 2009 – revela novo indício de queda. A retomada do processo de crescimento é feita a partir da intensificação da exploração do trabalho.
O aumento da jornada de trabalho e alto grau de rotatividade é observado em economias centrais, como a dos EUA, onde os trabalhadores estão endividados pelo desemprego e pela falta de crédito.
No caso brasileiro, a análise é de que o Estado atinge seu limite como financiador da produção, por meio do BNDES e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O endividamento pelo crédito também atinge a quantidade de 50% do PIB. A moeda mais valorizada do mundo é o real. A não ser que o Banco Central a desvalorize em 25%, aumentará o processo de desindustrialização. Outro apontamento se refere à inflação do preço dos alimentos no Brasil.
Intensificação do trabalho e percepção dos trabalhadores
Entre a nova direção que conquistou o Sitracarnes, sindicato dos trabalhadores do corte de carnes de Chapecó (SC), metade dela está afastada do local de trabalho devido a doenças como tendinopatia e outras formas de LER/Dort. Esta característica é observada no ciclo de expansão do capitalismo brasileiro. “O ciclo de expansão do capitalismo não permitiu que o Brasil fosse impactado. Ao mesmo tempo, ocorrem melhorias imediatas das condições de salário e não de trabalho, a lógica de exploração continua a mesma, o trabalhador vai sentir esta contradição no dia-a-dia da fábrica”, analisa Igor Grabois. “O Brasil hoje vive um ciclo de expansão da acumulação de capital, com ganhos imediatos, que, em momentos de crise são retirados dos trabalhadores”, complementa.
O desafio, de acordo com a exposição de Grabois, torna-se organizativo neste momento. Dados do Dieese apontam a realização de 293 greves em 2009. Ele cita casos de movimentação da classe à frente de suas direções, como tem acontecido pontualmente no setor de montadoras, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), hoje dominado pela Força Sindical. “Como transformamos essa necessidade de organização e luta numa intervenção, como discutir uma tática e estratégia dos trabalhadores? As lutas não pararam, temos tido lutas. A questão é como unificamos estas lutas e damos dimensão a elas”, indica.
Nota da redação Sindicato dos Radialistas;
O Sindicato dos Radialistas de São Paulo participou, mais uma vez, do encontro da Intersindical. Não só com sua presença, mas também com a transmissão do evento pela Rádioweb Antena Ligada.
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