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Foto: Divulgação/Celso Lungaretti
Seu objetivo era ouvir a versão pessoal de Battisti, condenado na Itália por quatro homicídios e que aguarda decisão da Justiça brasileira. Lungaretti lembra que, quando visitou Battisti, presenciou um perfil do escritor muito diferente do que a imprensa retrata.
Ao Portal IMPRENSA, ele conta como foi essa experiência, relata o motivo de defender uma campanha pela libertação de Battisti e destaca os supostos equívocos que alguns veículos da imprensa brasileira vêm cometendo ao retratar o caso
Lungaretti diz que a primeira impressão do presídio em que está Battisti foi pouco opressiva. “Abracei Battisti sem que nenhum segurança se preocupasse com a possibilidade de lhe passar algum contrabando. Decididamente, não o consideram perigoso”, ironiza.
O jornalista critica a forma como o italiano é retratado na imprensa brasileira: “Já passei pelos porões e prisões da ditadura, sei de uma série de fotos do Cesare, feitas por um profissional. Muitas o tornarão simpático aos leitores e outras não”, afirma sobre a manipulação de imagens que pode ser feita na prisão. Lungaretti passou por torturas em unidades do Destacamento de Operações de Informações (DOI) e Centro de Operações de Defesa Interna de SP e RJ quando foi preso político. Sobre esses e outros assuntos, o jornalista falou à IMPRENSA. Veja a seguir:
Portal IMPRENSA – Muitos de seus artigos criticam a cobertura da imprensa sobre o caso Battisti…
Celso Lungaretti – A próxima decisão sobre o caso está por vir, acredito que depois da semana santa. E vejo agora que na reta final parece que a imprensa pretensiosa não vê mais chance de interferir no caso. Ela parece ter tirado seu time de campo após ter conduzido uma ação orquestrada por parte de alguns jornais e revistas quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou o refúgio.
Portal IMPRENSA – Mas você acredita que a imprensa manipulou fatos?
Lungaretti – Ela simplesmente escolheu com que deveria falar. Por exemplo, o Alberto Torregiani, filho de uma suposta vitima de Battisti, tinha admitido para a Agência Ansa Itália que o Cesare não estava no dia do tiroteio em que seu pai foi morto. Mas como o assunto retornou à crista da onda, ele voltou a falar de forma oportunista e declarar acusações contra Battisti.
Portal IMPRENSA – Houve pretensões políticas da imprensa?
Lungaretti – Muito do que aconteceu na véspera das eleições foi com o objetivo de desgastar o PT e a candidata Dilma [Rousseff]. Foi algo óbvio para produzir uma situação eleitoral em que Estadão, Folha e Veja estavam engajados contra a candidata de Lula.
Portal IMPRENSA – E a imprensa italiana, como tem se posicionado?
Lungaretti – Na imprensa italiana, nem de longe o caso tem a proporção que a imprensa brasileira faz crer. Existem sim manifestações de bolsões direitistas isoladas. Segundo o que me informaram, o cidadão comum italiano está se lixando pra isso. Houve um ou outro, mas o tema não teve o vulto que teve por aqui e nem está acalorando o debate na opinião pública.
Portal IMPRENSA – Por que você tem lutado em favor da libertação de Battisti?
Lungaretti – Nosso objetivo é aproveitar a oportunidade de defender a verdade porque estamos na véspera da decisão. O Cesare Battisti vai ter uma vida depois disso, é preciso esclarecer que ele nunca foi terrorista, nem os documentos italianos atestavam isso. Terrorista é quem joga bomba no trem. O que ele fez nunca foi terrorismo.