No ano em que o Altas horas completa 10 anos, Sérgio Groisman diz que a TV é superficial

A atração, que irá ao ar no dia 18 de dezembro, trará Gilberto Gil, que fará duetos com outros dez artistas, entre eles Zeca Pagodinho, Samuel Rosa e Dinho Ouro Preto. Com um espaço generoso reservado para a música, o programa comandado por Groisman também chama a atenção por dar voz ao telespectador. Corintiano roxo, o comunicador e também apresentador do “Ação” (Globo) e do “Tempos de escola” (Canal Futura) afirma ser mais importante deixar o outro falar do que “fazer uma pregação”, como muitos de seus colegas.
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O GLOBO – O Altas horas completou 10 anos oficialmente em outubro. Por que deixou a edição especial para dezembro?
SÉRGIO GROISMAN – Eu quis comemorar durante o ano inteiro com programas especiais. E usei muito o nosso arquivo. Procuramos gente que já esteve na plateia para saber por onde eles andam hoje (no quadro “Procurando por você”). Por isso, deixamos a comemoração final para o último mês.
Quando você foi para a Globo já era para fazer uma atração no formato do “Altas horas”?
Não. Eu vinha de oito anos de diário e ao vivo (o “Programa livre”, do SBT), mas ao avaliar a grade da Globo, tive a ideia do “Altas horas” e a emissora atendeu. O programa era uma incógnita no começo. Tive 45 mudanças de horário em oito anos no SBT e, mesmo assim, não sabia como funcionaria uma atração na madrugada.
E o que você descobriu sobre o seu público?
Eu sempre achei que todo mundo saía de casa no sábado à noite. Mas aprendi que 80% das pessoas que compõem a audiência não têm outra alternativa de entretenimento fora a TV. Fiquei muito surpreso e ainda fico.
Você se incomoda com o horário do programa?
O ideal seria entrar no ar antes de 1h. Mas aí tem a Fórmula 1 e outros eventos que empurram a gente para mais tarde. Aprendi a conviver com isso. As pessoas queriam que o programa fosse exibido mais cedo. Sempre ouço isso. Mas estar na madrugada tem vantagens. Posso experimentar sem ficar preocupado com a questão da audiência.
Uma das características do programa é dar voz ao público. Como dosar sua opinião com a da plateia?
Tenho formação de jornalista e aprendi a ouvir (risos). Tento não interromper ninguém. Deixar o outro falar é mais importante do que fazer uma pregação, como outros apresentadores adoram fazer. Claro que tenho opinião, mas uma coisa que não faço é dar conselhos ou dar a minha conclusão pessoal. Não uso o poder do microfone dessa forma. Quando discordo de alguma coisa, procuro alguém na plateia para expressar a minha discordância.
A TV ainda dá pouca voz ao público?
Tem uma coisa mais grave. As pessoas leem pouco e veem muita TV no Brasil. Mais do que deveriam. Na Europa, a TV é muito chata e é quase uma contribuição daqueles países à população. No Brasil, a gente faz a melhor e a pior TV do mundo. As pessoas acham que estão informadas somente vendo o telejornal. Mas a vida não é um quiz de televisão. Para se formar alguém bacana também é preciso a leitura do jornal, uma ida ao teatro, ao cinema… Na televisão nada é aprofundado, até pelo tempo que se tem. A TV é superficial.
O que é ruim na nossa TV?
A TV ruim para mim é a que explora o ser humano e usa suas tragédias para alavancar a audiência. São os vampiros da tragédia.
Mas os jovens não estão vendo cada vez menos TV?
Tem essa lenda de que eles se afastaram. Mas uso o Twitter e vejo que o assunto número um é televisão. E as pessoas mais seguidas são da TV ou da música.
O que difere o jovem de hoje do de dez anos atrás?
A internet foi a maior mudança que a gente teve no comportamento jovem nos últimos anos. Se você tiver curiosidade, vai achar um mundo ali. E não vai ficar só em site de relacionamento.
Quais as novidades para o “Altas horas” em 2011?
Tenho muitas ideias que ainda estão na cabeça. Quero ter uma abertura diferente para o programa a cada semana. E teremos novos quadros. Um deles com alguns repórteres que não são repórteres, gente da música, por exemplo. Eles usarão suas próprias câmeras digitais para as reportagens. Outra vontade minha é fazer um programa com músicos conhecidos, acompanhados de um supercoral de 200 pessoas. E criamos uma novidade técnica: pequenas câmeras em lugares inusitados.
Ainda tem vontade de apresentar um talk show?
Tenho vontade de entrevistar sozinho e não apenas com a ajuda de outras 300 pessoas.
 

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