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Foto reprodução Giupress
Por Equipe do Museu Pró-TV
O Museu Pró-TV lamenta o falecimento de Vida Alves na noite de ontem, 03 de janeiro de 2017.
A atriz fundou e presidiu a entidade, de 1995 até a atualidade. Incansavelmente, ao lado dos colegas de profissão, lutou pela criação de oficial do Museu da Televisão Brasileira, que por 13 anos abrigou dentro de sua casa, e pela preservação da memória da radiodifusão.
Virou referência, indo muito além do fato que a marcou por toda uma vida: foi ela que protagonizou, ao lado de Walter Forster, o primeiro beijo da televisão brasileira (em 02/02/1952) e a primeira telenovela da América do Sul: “Sua Vida Me Pertence” (TV Tupi de São Paulo, no ar a partir de 21/12/1951).
Foi atriz, autora, produtora, diretora. Foi também um dos grandes nomes da Era do Rádio, estrelando radionovelas em São Paulo.
Vida Alves encontrava-se hospitalizada desde a semana passada, sendo vítima de falência múltipla dos órgãos.
A Pró-TV lamenta profundamente a partida de seu maior ícone, mas tendo a certeza de que o projeto continuará firme e com apoio de seus associados, além das entidades mantenedoras, como a Fundação Padre Anchieta / TV Cultura e a Rede Globo.
Nesse momento difícil, nos solidarizamos com a família de Vida Alves, com seus amigos e colegas da área, que ela sempre fez questão de representar.
Por orientação de Vida Alves, a associação continuará firme em sua missão de preservar a história da televisão brasileira. Quem assumirá o comando será Thais Alves, sua filha, juntamente com a nova diretoria eleita em setembro de 2016.
O velório acontecerá em São Paulo, no Cemitério do Araçá a partir das 7h da manhã. O enterro está marcado para às 16h.
Biografia
Vida Alves nasceu na cidade mineira de Itanhandu (MG), a 15 de abril de 1928. Seu pai era um engenheiro civil e poeta modernista de nome Heitor Alves, carioca, que por motivos de saúde, foi morar nas Mantiqueiras (Serra da Mantiqueira).
Ali conheceu Amélia Scarpa Guedes, filha de fazendeiros e com ela se casou. Do casamento nasceram cinco filhos, a quem Heitor deu nomes modernos, extravagantes: Helle, Vida, Homem, Poema e Ritmo. Heitor não exerceu sua profissão de engenheiro e foi ser professor no Colégio Sul Mineiro. Ali introduziu muitas modificações e modernidades no ensino, como aulas práticas de química, concursos, etc. Inclusive publicou livros de poesia e lançou a Revista Elétrica, que contava com a colaboração do grande poeta Carlos Drumond de Andrade. Mas o engenheiro veio a falecer, após oito anos de casamento. Amélia, viúva, e sem amparo, pois o que tinha gastou na doença do marido, veio para São Paulo. Foram morar na casa da avó materna.
Vida estava com seis anos de idade. Dificuldades muitas, e criatividade também. Vida e a irmã Helle, um ano mais velha, gostavam de brincar de teatro, chegando a encenar peças, que representavam em cima da mesa da casa da avó. Convidavam os vizinhos para representarem e os adultos para assistir, e lhes cobravam entrada. Logo aos dez anos Vida participou de um programa de rádio. A primeira vez em que foi entrevistada, foi na Rádio Educadora Paulista, de São Paulo, e o programa era de Nicolau Tuma, que era chamado de ” Locutor Metralhadora”, pois era o mais rápido narrador esportivo que existia.
Vida, em verdade começou sua carreira no “Clube do Papai Noel”, de Homero Silva, na Rádio Difusora de São Paulo. Era cantora-mirim, e gostava de imitar Carmem Miranda. Mas depois, como precisava colaborar com a “renda familiar” conseguiu um papel de “menino”, na novela :”A Vingança do Judeu”, dirigida por Oduvaldo Viana, na Rádio São Paulo. Daí a receber o primeiro contrato demorou algum tempo. Vida passou a integrar o elenco radioteatral da Rádio Panamericana, em 1944. Depois Vida foi dispensada, tendo passado por várias emissoras de rádio, pois nessa época, por motivos políticos, as emissoras mudaram de dono, e Vida Alves foi despedida cinco vezes de emprego, em pouco mais de um ano.Assim esteve nas Rádio Cosmos, Rádio Cruzeiro do Sul, Standard Propaganda, Rádio Cultura. Até que chegou à Rádio Tupi, onde foi contratada por Walter Forster. Estava com dezoito anos, e seu teste foi feito pelo então técnico de som, Lima Duarte. Nessa emissora Vida ficou 22 anos. E foi aí que entrou para a televisão, pois Assis Chateaubriand lançou a primeira emissora da América Latina, em 18 de setembro de 1950. Vida também havia ingressado, em 1947, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. E no último dia de 1949, casou-se com Gianni Gasparinetti, engenheiro italiano, recém chegado da Itália, e que fora contratado para erguer a Televisão Tupi, no Brasil. A carreira de Vida cresceu muito, pois ela começou a escrever para o rádio e para a televisão. Para as Rádios Tupi e Difusora escreveu 14 novelas, além de participar de incontáveis novelas, como atriz. Para a Televisão Tupi escreveu duas novelas: “O Segredo de Laura” e “Há Sempre o Amanhã”.
Escreveu vários outros programas e entre eles o programa que fez mais sucesso foi: “Tribunal do Coração” (considerado o programa de maior sucesso em 1954, sendo que nele Laura Cardoso fez sua estreia na televisão), em que Vida Alves aproveitava um pouco do que havia aprendido na Faculdade de Direito e encenava casos, que eram julgados, como se fosse um júri de verdade. É considerado o primeiro programa interativo da TV brasileira, pois os jurados eram convidados entre os espectadores, e decidiam o final: “Culpado ou Inocente”. E as histórias também vinham dos telespectadores. Escreveu ainda com sucesso: “Ciranda, cirandinha”, programa infantil, que numa segunda temporada recebeu o nome de “Prosa em Miniatura”. Sempre com interpretação só de meninos e meninas.
Vida Alves, não satisfeita, criou outros programas e foi também atriz. Participou de muitos “TVs de Vanguarda”, de Walter George Durst e Dionizio Azevedo. Para citar alguns. Fez: “O Homem que vendeu a alma”; ” Henrique IV; “Cara de Aço”;” O Delator”; “A Dama das Camélias” : “Madame Butterfly”, ” Uma Semana de Vida”, ” As Aventuras de Red Ringo”. ” A Mão de Deus”,” Os Três Mosquiteiros”, um seriado, “Fim de Semana no Campo”,” Eugênia Grandet”, em que ela atuou e também fez o script, “Cartas Venenosas”,”O Aventureiro”,” A Grande Mentira”,” O Caso Maurizius”, e muitos outros. Fez “TVs de Comédia”, algumas escritas por Geraldo Vietri e outras apenas dirigidas por ele. Fez: ” Chica Boa”, ” O Marido da Deputada”,” O Outro André”, ” Bombonzinho” e inúmeras outras. Fez também muitas novelas: Fez a primeira delas, que foi: “Sua Vida Me Pertence”, em 1951, ao lado de Walter Forster, onde houve o primeiro beijo da televisão brasileira, verdadeiro escândalo, para a época – foi ela também que deu o primeiro beijo homossexual da TV brasileira, no teleteatro “Calúnia” (TV Tupi, 1963), em Geórgia Gomide. Vida fez ainda: “O Amor tem Cara de Mulher”; “A Outra” (em que Tony Ramos estreou em novelas, fazendo filho de Vida Alves e Juca de Oliveira); “A Gata”; “Klauss, o Loiro”; “A Estranha Clementina”, e inúmeras,outras.
Em televisão, Vida Alves também foi produtora de apresentadora de programas. O primeiro que fez foi um programeto de cinco minutos, que se chamava: ” Tribuna da Mulher”, e ia ao ar ás 13 horas, todas as tardes, nas TV Tupi. Nele Vida falava sobre temas variados, mas não essencialmente femininos. Por ir bem, logo foi convidada pelo jornalista Maurício Loureiro Gama para participar do jornal vespertino: ” Edição Extra”, onde ela escrevia uma crônica e a lia, todos os dias. Foi como se o “Tribuna da Mulher” fosse inserido no jornal, o que lhe deu mais importância. Nesse programa Vida ficou de 1964 a 1968, como jornalista. Além disso Vida Alves produzia a apresentava a mesa redonda, semanal que se chamava “Vida Convida”, em que abordava assuntos importantes, como: “divórcio”, que não existia na época. Uma vez na TV Excelsior, Vida Alves passou a apresentar o: “Hora a Vez da Mulher”, que ia ao ar à meia noite, com assuntos polêmicos, como: ” O Terceiro Sexo”, além de fazer à tarde o: “Vida Convida”. Esse programa mudou depois para a TV Gazeta, para onde Vida se transferiu, tornando-se “Vida em Movimento”, considerado o primeiro programa regularmente em cores, a partir de 14 de março de 1972 – duas semanas antes da considerada estreia oficial da TV colorida, em 31 de março daquele ano. A seguir, na TV Record, Vida Alves criou o: “Viagem para a Vida”. E, por fim, na Rádio Mulher, programa de rádio, Vida Alves apresentava o: “A Tarde Convida”, que ia ao ar das 14 às 18 horas, de segunda a sexta-feira.
Em Vida Alves fez 4 filme. Em 1949, fez: “Chuva de Estrelas” e “Quase no Céu”. Em 1954, fez: “Paixão Tempestuosa”. Em 1973, fez: ” A Pequena Orfã”. Fez sucesso, foi bem sucedida. Mas, irrequieta, montou uma Academia de Rádio e TV – ART, em que preparava atores novos.
Teve, logo que se casou, dois filhos: Heitor e Thais, e os carregava para a emissora, desde a mais tenra idade.. Vida Alves também montou, mais tarde, uma empresa: “Vida Produções”, em que programas eram gravados e distribuídos em rede, pelo interior de São Paulo. Em 1978, já viúva, Vida passou por uma fase difícil e acabou por se afastar da televisão. Junto com sua filha Thais, dedicou-se a sua nova empresa “Vida Alves de Comunicação”, que foi inaugurada em 1982 e perdura até hoje, agora sob o comando de sua filha Thais. Vida Alves possuía três netos: a cantora Tiê (intérprete do sucesso “A Noite”, 2015), o músico Gianni e a psicóloga Carina. E três bisnetas: Lys, Amora (filha de Tiê) e Violeta (de Gianni).
Com prêmios no rádio e na televisão, Vida Alves, porém, por saudade e inquietude, fundou a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira – APITE, em 1995, ao lado de seus colegas. Desde 2000, após os 50 anos da TV, a associação ganhou o nome de PRÓ-TV, reunindo profissionais de todas as épocas e incentivadores da televisão brasileira. Em 2001 a associação conseguiu que fosse inserido no calendário official do país a data de 18 de setembro como “Dia Nacional da TV”, 51 anos após a inauguração da pioneira TV Tupi. Na data fez grandes festividades, como “50 Anos da TV” (Sala São Paulo, 2000) e o show “Televisão 60 Anos” (Memorial da América Latina), que parou a cidade de São Paulo, em 2010.
Vida Alves escreveu diversos livros, como “Vida…Uma Mulher!” (2002), “TV Tupi: Uma Linda História de Amor” (2008), “Televisão Brasileira: O Primeiro Beijo e Outras Curiosidades” (2014) e o de contos “Todas as Marias” (2015). Foi tema da biografia “Vida Alves: Sem Medo de Viver” (2013), de Nelson Natalino, e escreveu textos especiais para obra “Gabus Mendes: Grandes Mestres do Rádio e Televisão” (2015, ao lado de Elmo Francfort). De 2005 a 2015 dedicou-se a redigir, diariamente, mais de 5.000 biografias de profissionais da televisão brasileira, de todas as épocas. A partir de 2015 passou a escrever um blog, dentro do site institucional da Pró-TV (www.museudatv.com.br). Ela o chamava carinhosamente de “Cantinho da Felicidade”, pensando em trazer palavras e histórias de motivação aos internautas, para amenizar o momento de recessão em que o Brasil passa.
A “Senhora Televisão”
A pioneira, como presidente da Pró-TV, foi sempre incansável. Com mais de 80 anos, itinerou de 2009 a 2014, por várias cidades do Estado de São Paulo, para falar à sociedade sobre a importância de preservar a memória da TV, através da exposição “Marcos da Televisão Brasileira” (Secretaria de Estado da Cultura). Com o apoio da Rede Globo, levantou a bandeira da Pró-TV discursando para milhares de telespectadores, em 14 capitais do país, nas aberturas da exposição “60 Anos da Telenovela Brasileira”, que foi de Porto Alegre a Manaus, percorrendo as cinco regiões do país com apoio das afiliadas da Globo. Posteriormente, em 2013, foi até a Europa, abrindo a versão internacional da mostra, na TV Globo Portugal (em Lisboa). Falou sobre a memória de nossa televisão para o mundo todo.
Com o apoio dos profissionais da televisão, a começar pelos pioneiros, reuniu um rico acervo sobre a história da radiodifusão nacional. Coletou centenas de depoimentos de grandes profissionais da TV. Atores, diretores, autores, humoristas. Os principais possuem depoimento no acervo da entidade, além das quase 10.000 fotografias de todas as épocas do rádio e da televisão. Figurinos, equipamentos antigos (como a primeira câmera do país), roteiros de novelas, centenas de livros e um vasto acervo está pronto para criação do maior sonho de Vida Alves e seus colegas: o Museu da Televisão Brasileira. Sonho que perseguiu até seus últimos dias, e sempre dizia: “Mesmo que eu não consiga ver esse Museu de pé, sou feliz porque sei que plantei a semente”. Sua luta continuará através da associação. A partir de 2003 abdicou de praticamente toda sua casa para que abrigasse o acervo e pudesse ser visitado por toda imprensa, como também visitantes de todo mundo, no bairro do Sumaré – o mesmo em que a televisão nasceu em 1950, na Rua Vargem do Cedro, 140.
Sua última aparição na TV foi no programa “Persona in Foco”, em que Vida Alves contou sua carreira. A atração, gravada em março de 2016, foi exibida em 16 de agosto, pela TV Cultura, com mediação de Atilio Bari, auxiliando-o na apresentação Sonia Maria Dorce e Elmo Francfort, que sabatinaram Vida Alves. Para incentivar os jovens que a acompanham a seguir o caminho que almejam, Vida Alves deixa a seguinte mensagem: ‘‘Paciência, desejo, vontade. Chorem, mas levantem. Caiam, mas não derrubem o sonho. Sonhem. Só quem sonha consegue crescer. E só quem consegue crescer, realiza alguma coisa’’.
Sempre será lembrada por sua personalidade: forte e cativante, além de batalhadora, irrequieta, líder, perseverante e acima de tudo, inspiradora. Ela sempre será uma referência para todos os profissionais da televisão,
Serviço
Pró-TV – Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira
Tel. (Assessoria):
(11) 3872-7743 / (11) 9-8301-0907 / (11) 9-5701-2555 / (11) 9-7624-9699
E-mail: protv.museudatv@gmail.com