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O presidente Nicolas Sarkozy prepara medidas para satisfazer o mercado, com sacrifício da população francesa
A semana econômica terá início com a França como bola da vez na crise que atinge as nações europeias e afeta boa parte do mundo. Após o rebaixamento da classificação de risco de sua dívida pública, os franceses entraram para a lista das nações que precisarão provar sua capacidade de reverter o quadro atual, e isto deve significar, a exemplo dos demais casos, cortes em investimentos sociais.
Durante o fim de semana, o presidente Nicolas Sarkozy e os integrantes de seu gabinete esforçaram-se por mostrar reação ao rebaixamento da nota do país pela agência Standard and Poor’s. A notícia divulgada na sexta-feira (13) significa, em linhas gerais, que o chamado “mercado” confia menos na capacidade francesa de organizar sua economia, de reagir aos atuais problemas e de honrar as crescentes dívidas.
“Eu direi a eles (o povo francês) as decisões importantes que precisamos adotar sem perder tempo”, afirmou Sarkozy no domingo (15). “A crise pode ser superada desde que tenhamos o desejo coletivo e a força para reformar nosso país”. Para ele, como para os demais líderes europeus envolvidos nas negociações para minimizar os problemas, “desejo coletivo” é a expressão usada para definir corte de direitos trabalhistas, a flexibilização dos direitos trabalhistas e o corte do custeio do bem-estar social. Sarkozy anunciou que se encontrará com líderes sindicais nesta semana para anunciar rapidamente um pacote de reformas estruturais.
O ministro das Finanças, François Baroin, foi um pouco mais explícito ao indicar que tais reformas implicam, de fato, em mudanças para “melhorar a competitividade”, o que passa pela redução dos custos com os trabalhadores. “Assim, não haverá novas medidas para a consolidação orçamentária”, disse Baroin ao ser questionado sobre a necessidade de outros ajustes na economia.
No sábado, a Standard & Poors havia argumentado que as medidas anunciadas pelos líderes europeus estavam voltadas em demasia à redução da dívida. A agência rebaixou, além da França, a nota de nove dos 17 membros da zona do euro. “O risco de recessão está aumentando e agora calculamos uma probabilidade de recessão de 40 por cento para este ano”, pontuou a analista de crédito Moritz Kraemer em uma teleconferência, acrescentando que a contração pode chegar a 1,5% na comparação com 2011, um ano já bastante ruim.
O descrédito criado em torno da França deixou a Alemanha fortalecida e praticamente sozinha na condição de líder das mudanças a serem impostas às nações e, por consequência, à população da União Europeia. “Temos agora o desafio de implementar um acordo fiscal ainda mais rapidamente. E fazer isso de forma decidida, sem tentar atenuar a questão”, cobrou a chanceler Angela Merkel.
Portugal, Itália, Grécia e Espanha são as nações da região que já tiveram seu momento de “bola da vez”. Pressionados pelos líderes do bloco e do Fundo Monetário Internacional (FMI) a impor cortes em investimentos sociais, os governos destes países sofreram forte reprovação popular e dois deles, o grego e o italiano, caíram. O FMI considera que os ajustes são necessários neste momento para que dentro de alguns anos as economias locais possam começar a saldar as dívidas, que em alguns casos superam o Produto Interno Bruto (PIB). Até lá, porém, espera-se baixo crescimento econômico ou recessão, com enxugamento de salários e de direitos laborais.
Com informações da Agência Reuters.