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Por Otávio Nagoya
Em 2011, o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) lançou a Livraria Antonio Gramsci, especializada no debate sobre Comunicação Social. Porém, o destaque do novo espaço é o Arquivo de Imprensa Sindical, composto por mais de 30 mil exemplares de jornais, cartilhas e cartazes do movimento operário durante diversos períodos da história. O arquivo ainda está sendo sistematizado, mas já pode ser na livraria, das 10h às 19h, de segunda a sexta.
Segundo os coordenadores do NPC, Cláudia Santiago e Vito Giannotti, a ideia surgiu em 1993, quando eles viajavam pelo País para ministrar cursos e palestras. Logo, perceberam que o material produzido pelos sindicatos que visitavam não era guardado e se perdia ao longo do tempo. Assim, o NPC passou a estimular o armazenamento, inclusive recebendo cópias de materiais produzidos nos sindicatos do país. A seguir, o coordenador no NPC, Vito Gionnotti, fala sobre a importância de preservar a história dos trabalhadores.
Caros Amigos – Em sua avaliação, existe um recorte de classes na preservação da memória? E quais são os impactos disso?
Vito Gionnotti – Toda classe social tem sua história e sua memória. Esta memória pode ser usada em muitos sentidos, como simples lembrança de um passado que se foi ou como a lembrança de um passado do qual podemos tirar lições positivas ou negativas. A burguesia sempre usou a História para apresentá-la na sua visão e com isso garantir apoio a seus planos de dominação e consolidação da sua hegemonia.
Os trabalhadores precisam conhecer a história para tê-la como aliada em suas lutas. Guardar, preservar tudo o que se refere a sua história e imediatamente usar esta memória para reforçar sua política pelo bem da humanidade é um bom uso. A análise histórica é fundamental para compreender o hoje e projetar o amanhã, isto é, aprender com sua própria experiência. Este é o primeiro passo.
Em seguida, através desta análise, tira-se lições dos erros e acertos. Finalmente, divulgar de mil maneiras esta história e suas lições, usando-a na disputa de corações e mentes. Ou seja, a memória deve ser uma ferramenta para disputar a hegemonia enquanto classe.
Caros Amigos – Quais as dificuldades encontradas na preservação da memória operária? E qual a importância dessa tarefa?
A dificuldade entre os trabalhadores, sindicatos ou movimentos sociais, é que os resultados concretos da preservação e divulgação da memória tardam a aparecer. Aí, muitos desistem de apostar nesta ferramenta de resultados demorados. É trabalhoso e custoso. Necessita-se de pessoas apaixonadas pelo tema e investimento. Preservar significa recolher, armazenar, higienizar, produzir revistas, catálogos que contêm a história dos trabalhadores e colocar à disposição dos próprios trabalhadores.
A importância da preservação da memória é que, se bem usada, ela pode ser uma poderosa arma nas mãos dos trabalhadores, no sentido de disputar a versão dos fatos históricos com a outra classe, os patrões. Estes sempre dão sua visão e versão dos fatos em seus jornais e revistas, nas escolas, nas TVs e rádios e através de toda mídia eletrônica. Se os trabalhadores querem disputar a sociedade, precisam ter seus instrumentos de comunicação. A memória é uma destas ferramentas.
Caros Amigos – Como está o movimento operário na atualidade?
É comum escutar a frase: “o movimento operário está em crise”. Sim, é fato. O número de greves da década de 1980 e 90 foi muito superior ao dos últimos dez anos. E o que é pior, esse não é um fenômeno só brasileiro. É mundial. Mas o problema não é que as greves diminuíram e a classe operária está meio apagada.
O problema é mais geral. Como estão nossos partidos de esquerda? O que sobrou, no mundo, dos partidos comunistas da Itália, França, Espanha , etc…? O que sobrou dos que foram os partidos socialistas, mais ou menos reformistas, pelo mundo afora? E o que sobrou da Igreja progressista, com sua Teologia da Libertação, depois da destruição perpetrada pelo papa Wojtila (hoje santo) e pelo seu sucessor, Josef Ratzinger? E como andam aqueles movimentos de contestação chamados alteromundistas (Attac, Fórum Sociais, movimentos pacifistas, antinucleares, etc)?
A crise é da esquerda como um todo. Há um mundo a construir. O outro mundo, o mundo do socialismo a repensar e refazer, na realidade do século XXI. A tarefa não é para meses ou anos. Mas ela está aí para ser feita.
* Serviço: Livraria Antonio Gramsci – Rua Alcindo Guanabara, 17, térreo, Centro do Rio (rua do bar Amarelinho). O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h30. Para entrar em contato com a equipe, basta mandar um email paralivraria@piratininga.org.br aos cuidados de Sheila Jacob.