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Cartaz de manifestação ironiza críticas de jornais ao órgão que regula inflação na Argentina
O dia do jornalista na Argentina foi comemorado nesta sexta-feira (07/06) com uma manifestação histórica em Buenos Aires. Aos gritos de “Salta, salta, salta/ pequena lagosta/ todos os patrões são a mesma bosta”, lema adaptado da canção do argentino Ruben Mattos, trabalhadores de jornais, revistas, sites e agências de notícias realizaram uma greve de 24 horas para reivindicar um acordo coletivo de ajuste salarial (que na Argentina é chamado de paritárias). Até 2012, as negociações anuais eram feitas internamente, entre patrões e empregados de cada veículo de comunicação.
As principais demandas dos jornalistas são 35% de aumento do salário real – enquanto seus empregadores oferecem 24% em três parcelas – e o estabelecimento do valor de mil pesos (cerca de R$ 400) por colaboração free “lancer” – enquanto os donos de meios de comunicação gráficos oferecem 150 pesos (cerca de R$60). Apesar das diferenças nas linhas editoriais, os donos dos principais jornais portenhos coincidem na oferta para um acordo salarial coletivo e oferecem os mesmos números a seus trabalhadores.
Mesmo com a paralisação, os maiores periódicos do país circularam normalmente neste sábado. A exceção é o Página/12, em que houve diminuição no número de páginas e os textos não estão assinados.
Aline Gatto Boueri/Opera Mundi
Jornalistas argentinos tentam, pela primeira vez, negociar um aumento salarial coletivo para sites e meios impressos
A última vez que jornalistas fizeram greve na Argentina foi em 1986, em protesto contra o fechamento do jornal Tiempo Argentino, o primeiro do país. Desde 2010, existe outro jornal com o mesmo nome, editado em Buenos Aires.
“Nosso grêmio é um grêmio especial porque os patrões estão na mesa de negociação, mas por outro lado definem o conteúdo que se publica. Então nossas demandas não saem nos jornais, como você pode ver”, aponta Patrício Klimezuc, delegado sindical que negocia o acordo coletivo na agência de notícias estatal Télam, em entrevista a Opera Mundi.
Concentrados na porta da AEDBA (Associação de Editores de Diários de Buenos Aires), que conta entre seus membros com Clarín, La Nación, Perfil – todos com linha opositora – e Página/12, que apoia o governo de Cristina Kirchner, os manifestantes marcharam até a sede do jornal La Nación, onde chegaram a entrar no hall do prédio e permaneceram até que Carlos de Mori, representante da categoria neste jornal, anunciou que as reivindicações haviam sido levadas aos responsáveis por negociar os salários.
“Foi muito difícil chegar a esse momento, onde estamos todos unidos. O acordo do ano passado já foi revolucionário, porque brigar sozinhos é muito difícil. São patrões muito poderosos, politica e economicamente, são monopólios, tanto La Nación como Clarín. Internamente, eles têm mecanismos para cercear a liberdade sindical”, denuncia de Mori, que trabalha há 24 no La Nación e há 11 é delegado no jornal.
Em 2012 os trabalhadores do Clarín conseguiram eleger uma comissão interna para negociar salários. Desde 2000, quando houve uma tentativa de organização a que o Grupo respondeu com uma demissão massiva – cerca de 120 pessoas, entre trabalhadores efetivados e colaboradores –, os funcionários do Clarín não tinham nenhuma possibilidade de negociação salarial com seus empregadores.
Aline Gatto Boueri/Opera Mundi
Maioria dos jornais argentinos não teve circulação afetada neste sábado devido à greve de 24 horas
“No Página/12 o processo de organização está muito mais avançado que em outros jornais. Nós temos comissão interna desde a fundação do jornal, em 1987, e nossos acordos incluem os colaboradores free lancer. No Clarín e no La Nación, por exemplo, a luta hoje é para que cumpram com o acordo coletivo do ano passado. Nestes jornais, os acordos não são ampliados aos colaboradores, porque dizem que não os consideram trabalhadores, mas sim fornecedores externos”, conta Diego Martínez, delegado do Página/12.
Atualmente, o Grupo Clarín é o acionista majoritário, com 49%, da empresa Papel Prensa SA, única fabricante de papel-jornal na Argentina. O Estado argentino é o segundo acionista, com 28,08% da empresa, enquanto o La Nación detém 22,49% das ações. O fornecimento de papel para jornais e revistas passou às mãos dos dois maiores jornais do país durante a última ditadura militar, em uma transação suspeita, que inclui denúncias de uso da máquina de terror da ditadura para facilitar a venda das ações da Papel Prensa SA.
A reportagem de Opera Mundi não conseguiu falar com o porta-voz do Clarín. Apesar de ter feito contato com um dos trabalhadores do grupo, que passou o telefone do responsável por dar declarações, este não foi localizado e seu celular estava desligado.