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Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil Atual
Os delegados da 14ª Conferência Nacional de Saúde votaram neste sábado (3) 346 propostas distribuídas em 15 diretrizes. Entre as mais debatidas estão o modelo de gestão do Sistema Único de Saúde, a relação entre o setor público e privado e o exercício do controle social dentro dos Conselhos de Saúde no que diz respeito à eleição dos presidentes dessas instâncias deliberativas. De acordo com a relatoria da Conferência, os grupos conseguiram, mesmo com algumas divergências, garantir o término dos trabalhos.
Paulo Capel, da comissão de relatoria, disse que é a primeira vez em uma conferência de Saúde que mais de 200 propostas, cerca de 80%, tenham sido aprovadas nos grupos de trabalho sem terem de ser levadas à plenária final. “O resultado indica a sintonia entre os grupos, sendo as mais divergentes analisadas por todos”, afirmou.
Segundo ele, 5% das propostas foram rejeitadas e uma média de 15% vai passar pelo regime de votação dos 3.212 delegados na plenária final, que será realizada no final da tarde deste domingo (4).
O repúdio à gestão privada, por meio das Organizações Sociais (OSs), é o tema mais comum nas bandeiras, cartazes, camisetas e panfletos das delegações de vários estados. A técnica em enfermagem Silvia Viviani Andrade. de Pernambuco, diz que a situação é preocupante no estado.
Desde 2009, o Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), presidido pelo secretário estadual de saúde, Antonio Carlos Figueira, administra o Hospital Metropolitano Norte Miguel Arraes, em Paulista, e as três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Olinda, Paulista e Igarassu, que foram inaugurados entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010.
“Em Caruaru, os pacientes esperam mais de 50 dias por uma cirurgia ortopédica e no fim acabam transferidos para hospitais privados”, afirma Silvia.
O delegado e indígena João Francisco Neri, do Amazonas, aponta a necessidade de implementação das propostas aprovadas. Para ele, é importante também qualificar os trabalhadores de saúde no sentido de orientá-los no tratamento destinado a toda heterogeneidade da população brasileira. “O SUS é para todos, para negros, para indígenas e outros segmentos. Esperamos que algumas propostas aprovadas contemplem a capacitação para que os profissionais saibam lidar com a diversidade”, ressaltou.
Novo e antigo
Na avaliação de Paulo Capel, outro ponto de destaque foi a votação eletrônica empregada pela maior parte dos 17 grupos e usada pela primeira vez em uma conferência nacional de saúde. No entanto, alguns grupos decidiram usar a forma antiga de votação, utilizando os crachás para manifestarem seu voto.
A conferência, que será encerrada na noite deste domingo, é a maior já realizada no setor, com mais de 4 mil pessoas. Outra característica marcante é a diversidade do povo brasileiro aqui representado e o respeito às diferenças. A começar pela abertura, no dia 1º, em que um travesti foi mestre de cerimônia; Jurema Werneck, do movimento negro, a coordenadora-geral da conferência; e a maciça presença de usuários do SUS, trabalhadores e gestores, de todas as cores, sotaques e vestimentas típicas. O Brasil inteiro dentro do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.