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A preocupação motivou um discurso no Senado estadunidense nesta terça (15) do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, que tentou dissipar o medo de uma venda em massa dos títulos americanos, que pode provocar uma queda bem mais dramática do combalido dinheiro do Tio Sam, que bem ou mal ainda exerce a função de moeda mundial.
Bolsas em queda
O terremoto que atingiu e devastou parte do Japão, provocando uma crise nuclear, colocou mais pressão na já frágil economia global. As dimensões do desastre natural ainda estão sendo avaliadas por diversas economias no mundo, mas, o fato é que os efeitos já chegaram aos mercados financeiros tanto de Tóquio como no de Wall Street nesta terça-feira. Os prejuízos causados pela tragédia já são estimados em cerca de US$ 300 bilhões.
O índice Nikkei 225, da bolsa de Tóquio, recuou 10,6% nesta terça-feira, para 8.605,15 pontos, diante do aumento dos temores de catástrofe nuclear no Japão. No mercado americano, as bolsas tiveram perdas mais expressivas. O índice Dow Jones caiu 1,15%, enquanto o Nasdaq recuou 1,25% e o S&P 500 perdeu 1,12%.
Expectativa moderada
Os impactos do que ocorre no Japão ainda estão sendo medidos pelos governos, mas a expectativa é que os efeitos finais sejam moderados para os EUA e outras economias globais, já que os preços do petróleo estão caindo e a reconstrução da região afetada pode trazer algum aquecimento econômico.
Com uma economia japonesa mais fraca, os preços das commodities podem sofrer um alívio, uma vez que o Japão é o maior importador de combustível, produtos agrícolas e outras matérias-primas, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics. Mas, com o tempo, pode também sobrevir o efeito contrário, já que a reconstrução tende a ampliar a demanda por matérias-primas (como aço) e combustíveis.
Cenário drástico
Mesmo diante de um “cenário drástico”, o economista do Bank of America, Ethan Harris, estima que o desastre no Japão pode cortar apenas 0,1 ponto percentual do crescimento global, reduzindo-o a 4,2% neste ano.
Outro aspecto a se levar em consideração é que a contribuição do Japão para a economia global recuou de 18%, em 1995, para 9%, em 2010, de acordo com CLSA Ásia-Pacífico Markets, grupo de investimentos. A estagnação do país no período, associado ao forte crescimento da China e outros emergentes, explica o declínio.
Medo
Nesta terça-feira, o discurso do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, no Senado americano tentou dissipar o medo de uma venda em massa dos títulos americanos.
Geithner afirmou que o Japão é capaz de lidar com o custo da recuperação após o devastador terremoto e não deverá vender os títulos do Tesouro americano para levantar caixa para financiar a reconstrução do país. Será? A preocupação com a crescente dívida interna do país não procede?
País rico
O Japão é “um país muito rico”, com altas taxas de poupança, disse Geithner ao Comitê Bancário do Senado. “Ele (Japão) tem capacidade de lidar não apenas com o desafio humanitário como também com o desafio da reconstrução que vão enfrentar”, declarou o secretário.
Pode ser que o secretário do Tesouro tenha razão, mas a própria menção à possibilidade de uma derrama dos títulos duvidosos lançados pelos EUA, que perdem valor diariamente em função da queda do dólar, revela a fragilidade das finanças imperiais e reforça clamor por mudanças no sistema monetário internacional com a substituição do dólar como principal moeda internacional.
Os EUA ostentam a nada invejável posição de maior devedor do mundo. Têm o privilégio de emitir o dólar e, teoricamente, podem pagar a dívida com emissões, o que de certa forma estão fazendo com o resgate de títulos através do controvertido programa de expansão quantitativa da moeda, a cargo do banco central do país, o Federal Reserve. A contrapartida disto é a depreciação dos títulos e a inflação de dólares no mercado internacional, que é uma das principais causas da alta das commodities, ao lado hoje da demanda chinesa e dos conflitos no Oriente Médio.
Com agências