Compartilhe
As constatações fazem parte de levantamento concluído em julho deste ano por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) acerca do cotidiano dos vigilantes no estado mineiro.
“Boa parte dos vigilantes [de transporte de valores] não tem assegurado as condições compatíveis para poderem se alimentar”, afirmou o professor Carlos Eduardo Carrusca Vieira, que coordena estudos relacionados à Psicologia do Trabalho na PUC Minas. Em entrevista ao programa Vozes da Liberdade, ele explicou que a ausência de pausas e a extensa jornada têm a ver com a inserção de novas tarefas na rotina diária dos trabalhadores.
Dentro desse quadro, foram identificadas alterações no metabolismo e enfermidades – como problemas nos rins e perda ou ganho de peso. Grande parte dos que responderam à pesquisa também manifestou sentir dores no pescoço e nos membros inferiores, além de varizes.
Somada à permanência em pé (muitas vezes durante todo o expediente de 12 horas, a despeito das supostas 36 horas de descanso após cada turno), os empregados do setor costumam usar coturnos que não são, segundo a pesquisa, os mais adequados para a atividade. Vigilantes disseram, confome observa Carlos, que os coturnos parecem ferraduras.
O estudo dos trabalhadores do setor começou com o acompanhamento, ao longo de dois anos, de um grupo de 202 seguranças e vigilantes (de transporte de valores e também do segmento de eventos, indústrias, instituições de ensino e bancos). Diante dos elementos colhidos por meio da verificação do cotidiano do trabalho, os pesquisadores promoveram a segunda parte da pesquisa, com base em um questionário respondido por 1.232 pessoas.
Além dos reflexos na saúde física, a forma de organização do trabalho de seguranças e vigilantes também contribui para o desgaste mental. Depois de episódios de violência (como assaltos, por exemplo), muitos ficam sem receber a assistência psicológica prometida nas convenções coletivas assinadas pelos empregadores. A falta de acompanhamento explica a ocorrência de casos de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), assim denominada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os resultados da pesquisa sobre trabalho, saúde e adoecimento dos vigilantes foram compilados em publicação lançada no II Seminário Estadual sobre Condições de Trabalho e Saúde dos Vigilantes e Trabalhadores de Empresas de Segurança e Vigilância do Estado de Minas Gerais, com apoio da Procuradoria Regional do Trabalho da 3a Região (PRT-3).
Relatório
Paralelamente à pesquisa da UFMG e PUC Minas, o centro regional da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro) em Minas Gerais realizou outro trabalho mais abrangente com os trabalhadores do setor de vigilância, em parceria com o Sindicato dos Empregados em Empresas de Segurança e Vigilância do Estado de Minas Gerais (SEESE-MG) e com o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Embasada em 5.076 questionários, a pesquisa promoveu um “mapeamento sócio-econômico sobre as condições de trabalho e saúde dos vigilantes do estado, como uma visão geral deste profissional”, segundo a chefe do centro regional da Fundacentro, Marta Freitas.
Nada menos que 85% dos pesquisados disseram sentir dor nas pernas. Mais de 35% disseram ainda ter realizado algum tipo de tratamento de saúde. Cerca de 30% dos trabalhadores do setor possuem renda de, no máximo, R$ 760,00. A desigualdade racial também salta aos olhos: enquanto um trabalhador branco tem renda média de R$ 917,99, o mesmo profissional negro recebe em média R$ 871,61, o que equivale a um valor 5,05% menor.
Nas mineradoras, cerca de um quarto dos entrevistados declararam que sentem seus empregos ameaçados. Três de cada quatro vigilantes e seguranças afirmaram ainda que fazem hora-extra, na maioria dos casos (25%), para cobrir a ausência de outro funcionário.
A prospecção das respostas foi concentrada na região metropolitana de Belo Horizonte (56,23%). Em segundo lugar, veio o Triângulo Mineiro (13,91%). Os critérios utilizados para a coleta de dados dos trabalhadores de cada município foram a população, o Produto Interno Bruto (PIB) e a quantidade de trabalhadores e estabelecimentos nos ramos de extração mineral, bancos, indústria, comércio, hospitais e ensino.