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Marina Mattar
do Opera Mundi
Organizações de direitos humanos, estudantis, sindicais e movimentos sociais chilenos convocaram diferentes atividades nesta terça-feira (11/09) ao redor do país para lembrar o 39º aniversário do golpe militar que derrubou e ocasionou a morte do presidente socialista Salvador Allende, em 1973. Desde a noite de segunda-feira (10/09), o governo já havia registrado manifestações em bairros e escolas e prendido 27 manifestantes que homenageavam as vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973 – 1990).
As manifestações ocorrem em um momento em que aumentam as denúncias dos abusos dos carabineiros (polícia militar do país) contra manifestantes, enquanto algumas autoridades tentam aprovar uma lei para criminalizar protestos. No início do ano, o Conselho Nacional de Educação aprovou uma controversa medida substituindo o termo “ditadura militar” por “regime militar” nos livros escolares para se referir ao governo de Pinochet.
Segundo críticos da administração de Sebastián Piñera, a atual democracia chilena ainda possui muitos resquícios do regime ditatorial de Pinochet. “A repetição dos casos e o surgimento de denúncias contendo novas modalidades de abuso nos faz pensar que chegamos a um momento limite, em que já não basta que as autoridades falem em sanções e investigações, é preciso haver uma profunda mudança de postura de atuação policial”, disse a presidente do INDH (Instituto Nacional de Direitos Humanos), Lorena Fries.
Por conta da data, os carabineiros enviaram na terça (11/09) mais de mil oficiais às ruas chilenas e inauguraram veículos equipados com câmeras de segurança e outros aparatos tecnológicos, que custaram 180 milhões de pesos chilenos (765 mil reais).
O chefe da Zona Metropolitana dos carabineiros, Luis Valdés, em Santiago explicou que o efetivo policial deve assegurar a ordem e reprimir qualquer manifestação violenta. O militar lembrou que, nas comemorações do ano passado, 103 pessoas foram presas apenas na capital chilena e em todo o país, houve 161 detidos.
Os ativistas homenagearam o ex-presidente Salvador Allende, morto no golpe do dia 11 de setembro de 1973, e as milhares de vítimas da ditadura militar. Como fazem todos os anos, eles deixaram flores em frente ao monumento do ex-presidente, em frente ao palácio presidencial.
Na noite de segunda-feira (10), mais de 50 pessoas protestaram em frente a uma delegacia e bloquearam o trânsito em Santiago.
Um dos principais protestos em lembrança ao período ditatorial aconteceu, no entanto, no domingo (09) quando milhares de chilenos tomaram às ruas da capital em memória aos detidos e desaparecidos.
Carregando cartazes, bandeiras chilenas e do Partido Comunista e gritando palavras de ordem, os manifestantes caminharam até o cemitério geral, onde está localizado o Memorial do Detido Desaparecido e Executado Político, que lembra as vítimas do regime militar. “Marchamos para lembrar aqueles que perderam suas vidas durante a ditadura cruel de Pinochet”, disse Carolina, uma das manifestantes que carregava a foto de um familiar desaparecido durante os 17 anos de ditadura.
Segundo organizações não-governamentais, a ditadura de Pinochet deixou mais de 3 mil mortos e 37 mil vítimas que sofreram prisões e torturas.Os tribunais chilenos mantêm abertas 350 ações judiciais por desaparecimentos, torturas, prisões ilegais ou conspirações que datam do período ditatorial e envolvem cerca de 700 militares e agentes civis.
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