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Por Lúcia Rodrigues
Uma petição online organizada por ativistas ligados a movimentos de defesa dos direitos humanos quer que a Prefeitura de Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro, transforme a Casa da Morte em um centro de memória política em homenagem àqueles que tombaram na luta contra a ditadura militar.
A Casa da Morte, como é conhecida a mansão de Petrópolis, localizada no número 120 da rua Arthur Barbosa, no centro do município fluminense, era um dos inúmeros centros clandestinos utilizados por agentes da repressão para torturar e matar ativistas de esquerda durante os anos de chumbo.
A masmorra também chamada de Casa dos Horrores, devido às atrocidades praticadas no local contra militantes que atuavam na guerrilha urbana, era um dos imóveis cedidos aos órgãos de repressão por empresários apoiadores da ditadura.
O proprietário do endereço da morte em Petrópolis, o alemão Mário Lodders, emprestou a residência aos agentes do Centro de Inteligência do Exército (Ciex) para trucidar os opositores do regime.
Segundo informações, Lodders acompanhava pessoalmente as sessões de tortura aos ativistas que eram levados para lá. O ex-médico Amilcar Lobo, que teve o registro cassado pelos conselhos Regional de Medicina do Rio de Janeiro e Federal de Medicina, após denúncias de ex-presos políticos de que era um dos profissionais que davam suporte médico na calibragem das torturas durante os interrogatórios, era um dos que agiam na casa de Petrópolis.
Desaparecidos
Carlos Alberto Soares de Freitas, da Vanguarda Armada Revolucionária (VAR- Palmares), ex-companheiro de militância política da presidente, Dilma Rousseff, e a teatróloga Heleni Telles Ferreira Guariba, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), são dois dos inúmeros ativistas que perderam a vida na casa.
A única ativista que conseguiu sobreviver aos suplícios da masmorra foi a ex-bancária Inês Etienne Romeu, que militou na Política Operária (Polop) e na VPR, a mesma organização do capitão Carlos Lamarca. Brutalmente seviciada durante os cem dias em que permaneceu presa no local, os relatos sobre o sadismo de seus torturadores impressionam.
“A qualquer hora do dia ou da noite sofria agressões físicas e morais. ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Este mesmo ‘Márcio’ obrigou-me a segurar seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante este período fui estuprada duas vezes por ‘Camarão’ e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”, afirma em depoimento transcrito no livro Brasil Nunca Mais, organizado pela Arquidiocese de São Paulo.
Inês foi dada como morta por seus algozes e abandonada em uma rua do Rio de Janeiro, para simular a morte por atropelamento. O plano dos militares falhou e presa política sobreviveu. E com ela sobreviveram também inúmeras histórias macabras presenciadas no cativeiro do porão. A gana por justiça permitiu a elucidação da verdade.
Perspicácia e determinação foram fundamentais para fechar o quebra-cabeça do enigma que tinha tudo para permanecer sem resposta. Inês tinha como pista apenas os quatro últimos números do telefone do imóvel, que ela havia escutado nas conversas entre seus torturadores. Foi o suficiente para percorrer o catálogo telefônico do município e encontrar o endereço da morte.
Para assinar a petição que quer transformar a Casa da Morte no Centro de Memória, Verdade e Justiça de Petrópolis acessehttp://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N7357
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