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A conduta da TV Bandeirantes ao dar espaço por uma segunda vez ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) é motivo de divergência entre especialistas que discutem comunicação ouvidos pela Rede Brasil Atual. Uma semana depois de dar declarações polêmicas que geraram uma série de representações contra o parlamentar na Câmara Federal, o deputado teve novo espaço para “esclarecer” suas posições em relação à homossexualidade e aos negros.
Para a jornalista Carolina Ribeiro, o caso só ganhou repercussão e deixou a questão dos direitos humanos em evidência porque a primeira entrevista do deputado foi ao ar. “Sempre acho que quanto mais democracia e mais liberdade de expressão, melhor”, opina. Integrante do Coletivo Intervozes, ela eslcarece que o grupo não discutiu a questão e que as opiniões são pessoais, como pesquisadora em comunicação.
O professor da Universidade de Brasília (UnB), Venicio Artur de Lima, segue a mesma linha de pensamento, porém, faz ressalvas. Para ele, a liberdade de expressão é um direito, e quanto mais espaço for dado à sociedade, melhor. Mas se for um caso ilícito e colidir com outro direito constitucional, a empresa que detém a concessão mostra-se conivente com a questão envolvida.
“O ideal seria que não só esse cidadão como qualquer outro tenha espaço (na programação das emissoras de TV). Mas se (o entrevistado) estiver reiterando um crime, a concessão está sendo conivente”, explica o professor. Ao conversar com a reportagem, Lima deixou claro que preferia não opinar especificamente sobre o caso Bolsonaro por não ter acompanhado de perto o episódio.
Desde o dia 28, quando foi ao ar uma entrevista concedida pelo deputado a um programa de TV da emissora, foi pedida a abertura de uma série de pedidos de processos na Corregedoria da Câmara dos Deputados, por declarações racistas e homofóbicas. Na segunda-feira (4), no mesmo programa, Bolsonaro voltou a fazer declarações envolvendo gays e negros.
“Este é o papel dos veículos de comunicação: dar visibilidade aos nossos parlamentares e ao que eles pensam”, opina Carolina. “É fundamental num processo democrático. E é só por conta dessa visibilidade que é possível avaliar se uma pessoa tem escrúpulos ou não. Cabe à sociedade julgar a postura dele como uma figura pública”, defende a jornalista.
Apesar de considerar que a segunda aparição do deputado no programa de TV seja uma opção editorial do veículo, Carolina pondera que o debate deveria ter sido equilibrado. Ela defende que mesmo abordando temas contraditórios, as fontes apresentadas devem oferecer pluralidade aos espectadores. “E isso vai muito do exercício do jornalismo. É um debate que está em pauta”, define.
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