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Abbas submeteu pedido formal de reconhecimento do Estado palestino
ao secretário-geral da ONU,Ban Ki-moon – Fotos: UN Multimidia
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, submeteu nesta sexta-feira (23) um pedido formal à Organização das Nações Unidas (ONU) pelo reconhecimento de um Estado palestino que seja membro do organismo.
De acordo com um comunicado divulgado pela ONU, Abbas se encontrou com o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, em Nova York, e entregou a ele um pedido formal de reconhecimento. O pedido será avaliado pelo Conselho de Segurança da ONU e, em seguida, pela Assembleia Geral.
Os palestinos pedem a delimitação de seu Estado a partir das fronteiras de 1967, que incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental – territórios ocupados por Israel, que rechaça veementemente a decisão palestina.
O pedido da Palestina conta com o apoio de 128 países da ONU, o que representa dois terços da Assembleia Geral do organismo. No entanto, os Estados Unidos ameaçam rejeitar o pedido no Conselho de Segurança, onde os palestinos necessitam de nove votos de um total de 15 e nenhum veto dos membros permanentes (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, China e Rússia).
O dia é considerado histórico já que, 44 anos após a guerra de 1967 e 63 anos após a fundação do Estado de Israel, um presidente palestino se dirige aos 193 países membros da ONU para pedir o reconhecimento da Palestina.
Já o governo israelense alega que a reivindicação palestina, ao ser levada para a ONU, aumenta as tensões bilaterais e não resolve as disputas pendentes entre os dois lados.
A hora do povo palestino
Em discurso durante a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Abbas ressaltou a necessidade de que a Palestina seja reconhecida como país livre e independente e pediu o ingresso da nação como membro 194 do organismo. “Essa é a hora da verdade, nosso povo quer escutar a resposta de vocês”, afirmou.
Abbas mostra na Assembleia uma cópia do pedido de reconhecimento do Estado palestino |
No terceiro dia de sessões na ONU, diante dos líderes mundiais, Abbas declarou que “ninguém com consciência pode ignorar nossa solicitação de filiação plena à ONU”. “Já é hora de entrar em negociações com parâmetros claros e credibilidade”, afirmou, em meio a aplausos na Assembleia e também de palestinos que acompanhavam seu discurso em Ramallah.
O presidente da ANP também fez um chamado para que os países que ainda não reconhecem o Estado da Palestina o façam porque “é hora de que o povo palestino tenha sua independência e que acabe o sofrimento do povo na diáspora”.
Abbas garantiu ainda que a Autoridade Nacional Palestina busca “uma paz justa que garanta os direitos inalienáveis dos palestinos”. E na busca dessa paz, segundo ele,
os palestinos se chocaram “contra uma rocha, a relutância de Israel em iniciar um processo de negociações, pois segue construindo assentamentos”. De acordo com ele, o governo de Israel “se nega a se comprometer com as resoluções da ONU sobre os assentamentos em território palestino” e rechaçou “a construção acelerada de territórios anexados”
O presidente da ANP também enfatizou que a força de ocupação segue com escavações e ameaça lugares sagrados com a instalação de postos militares de controle que impedem aos cidadãos de chegarem às mesquitas e outros lugares santos. Segundo Abbas, a ocupação de Israel “está buscando redefinir as fronteiras de nossa terra e completar uma situação que modifica a realidade e destroi o potencial real para o surgimento de um Estado palestino”.
O líder também pediu que Israel construa pontes de diálogo em vez de muros e postos de controle nos territórios ocupados depois da guerra de 1967.
Israel
Benjamín Netanyahu: ONU é “uma casa de mentiras” |
Em seguida a Mahmoud Abbas na Assembleia, foi a vez do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamín Netanyahu. Para ele, o conflito entre os dois países deve se resolver sem as resoluções da ONU. “A verdade é que Israel quer a paz, eu quero a paz. A paz deve se ancorar na segurança, não com resoluções da ONU. Os palestinos só querem um Estado sem paz”, disse.
Netanyahu classificou ainda a ONU como “uma casa de mentiras”. “Quando me nomearam embaixador das Nações Unidas em 1984, me disseram que iria trabalhar em uma casa de muitas mentiras. É um lugar escuro em que espero que a luz da verdade ilumine ainda que seja por alguns minutos meu país, que tem sido humilhado por tantos anos”, afirmou.
O primeiro-ministro destacou ainda que, “ano após ano, Israel tem sido tratado de maneira injusta e condenado com mais frequência do que outras nações do mundo juntas”.
Nentanyahu também rechaçou a proposta do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de que a Palestina seja um “Estado não-membro” da ONU. Segundo ele, isso seria reconhecer a existência de um Estado “à margem das negociações de paz”.
Confrontos
Também nesta sexta-feira (23), pelo menos um homem morreu durante confrontos entre manifestantes e colonos judeus na Cisjordânia. Segundo fontes oficiais palestinas, a vítima é um homem de 35 anos chamado Essam Kamal Badran, que teria sido morto com um tiro na nuca por forças de segurança israelenses. O exército, por sua vez, afirma estar investigando a situação no local. O incidente teria ocorrido na localidade de Qusra, a sudoeste de Nablus. A repressão israelense também deixou vários palestinos feridos.
Os choques iniciaram quando dezenas de colonos judeus atacaram a região, atirando contra as janelas de várias casas, segundo testemunhas. Os moradores responderam às agressões com pedras.
Em Ramallah, cerca de 120 manifestantes se concentraram próximos a uma área a oeste da cidade e atiraram pedras contra as forças militares israelenses.
Os soldados reprimiram os manifestantes com gás lacrimogêneo e outros equipamentos adquiridos recentemente por Israel para conter uma possível onda de protestos pela apresentação da candidatura da Palestina à ONU. Três pessoas, entre elas um jornalista francês, sofreram ferimentos pela inalação do gás.
Em Bilin, local onde durante anos os palestinos se manifestaram para protestar contra a construção da barreira de separação da Cisjordânia, também foi registrada uma pequena concentração. E em Qalandia, um dos focos de maior tensão entre Jerusalém e Ramallah, testemunhas informaram que homens encapuzados arremessavam pedras contra as forças israelenses.
Pouco antes, a polícia de fronteiras israelense deteve três palestinos em uma estrada de Jerusalém Oriental por atirarem pedras contra veículos israelenses, e outros dois na Cidade Antiga por desordens na entrada da Esplanada das Mesquitas.