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Zumbi, meu zumbi.
Hoje meu coração eu arranco
Zumbi hoje eu fui ao banco
E ainda estou presa
Escuto os seus sinos
e ainda estou presa na senzala Bamerindus*
Presa definitivamente
Presa absolutamente
à minha conta
corrente.
(Zumbi Saldo – Elisa Lucinda)
Em 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares, o último líder do maior Quilombo brasileiro do período colonial, foi assassinado pelas tropas coloniais comandadas por Domingos Jorge Velho. Em 1971, o grupo Palmares, em Porto Alegre, realizou um ato em homenagem à resistência e luta de mulheres e homens pretos, em contraponto à data de 13 de maio, alusiva à abolição da escravatura. A partir desse evento, a ideia do 20 de novembro como símbolo das lutas dos trabalhadores pretos começou a se espalhar nos demais estados do Brasil, e no dia 09 de janeiro de 2003 se tornou oficialmente o “Dia da Consciência Negra”.
Em 4 séculos de escravização, aproximadamente 12 milhões de pessoas negras foram sequestradas no continente africano e trazidas em mais de 36 mil viagens de navios negreiros para o Brasil. Foram essas milhões de mãos pretas que construíram praticamente todas as riquezas do período colonial brasileiro, e que forneceram à nascente burguesia europeia o capital inicial para o desenvolvimento industrial.
“As descobertas de ouro e de prata na América, o extermínio, a escravização das populações indígenas, forçadas a trabalhar no interior das minas, o início da conquista e pilhagem das índias Orientais e a transformação da África num vasto campo de caçada lucrativa são acontecimentos que marcam os albores da era da produção capitalista. Esses processos idílicos são fatores fundamentais da acumulação primitiva.” (MARX, “O Capital”, Capítulo XIV, p. 868)
A violência imposta pelo racismo que fere mata ainda continua: os trabalhadores negros continuam à margem da história, sendo sistematicamente invisibilizados por uma classe dominante, ou seja, pelo capitalismo que deseja manter trabalhadoras e trabalhadores negros num papel de subjugação.
Negar ao negro sua presença na história brasileira, apagando todo o seu histórico de lutas, cultura, ciência, e as incontáveis contribuições à sociedade, faz parte de um projeto econômico que se utiliza do racismo para manutenção da classificação racial com o objetivo de potencializar seus lucros e sua exploração ao conjunto da classe trabalhadora.
Aos negros, que somam 55% da população brasileira, também se relegam as maiores taxas de analfabetismo, evasão escolar, desemprego, trabalho desprotegido de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais. É a parcela da classe trabalhadora que menos têm acesso à saneamento básico, assistência à saúde e seguridade social. A renda média mensal dos negros é 55,8% da renda de trabalhadores brancos em geral, e ainda têm salários menores do que os brancos para o mesmo nível de formação.
Quando são trabalhadoras negras, mais opressão e exploração: as trabalhadoras negras são mais expostas à violência doméstica e sexual, têm os piores rendimentos e condições de trabalho ao mesmo tempo em que são a maioria no que se refere às chefias de família, quanto menor a renda da família, maior a chance dela ser chefiada e sustentada por uma trabalhadora negra. Mesmo com a aprovação da PEC das domésticas (2013), a maioria das trabalhadoras desse ramo segue na informalidade, sem carteira assinada e sem os mínimos direitos ainda existentes após a reforma trabalhista.
Entre a fome e o endividamento, entre a informalidade e o desemprego, essa é a realidade que se impõe aos trabalhadores brasileiros e maior ainda aos trabalhadores pretos.
Ser negro no Brasil hoje é estar constantemente em uma luta contra o racismo institucionalizado que segrega e aprofunda a exploração a partir da cor da pele, se os salários dos trabalhadores brancos seguem sendo constantemente arrochados, aos trabalhadores negros a imposição é de salários ainda menores.
É dessa forma que se perpetua uma situação em que as piores condições de vida se tornam também barreiras que dificultam aos trabalhadores negros terem acesso às maiores rendas e a tantos direitos, o racismo sempre foi utilizado pelo capitalismo e seu Estado no Brasil como parte fundamental para manter e ampliar sua exploração, portanto a luta antirracista deve ser uma luta do conjunto da classe trabalhadora.
Durante o governo Bolsonaro mais violência e assassinatos contra os trabalhadores negros: Bolsonaro montou um mega esquema de mentiras para vencer as eleições em 2018 e continuou a mentir durante todo seu governo, mas se tem algo que não mentiu é seu ódio por mulheres, negros, LGBT´S , pela classe trabalhadora e seus Organizações.
Mais do que um discurso de ódio, seu governo fez emergir do esgoto os racistas que se sentiram liberados para ampliar os crimes contra os negros: em abril de 2019, o trabalhador Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos foi assassinado por soldados do Exército que alvejaram com mais de 80 tiros de fuzil o carro em que estava com sua família. Qual seu crime? Evaldo era um trabalhador negro que estava com sua família indo para um chá de bebê. Em novembro de 2020, João Alberto Silveira Freitas foi assassinado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre/RS, asfixiado até a morte. Seu crime? Nenhum, mais um trabalhador negro, morto pela cor de sua pele.
No início de 2022, Moïse Mugenyi Kabagambe, um trabalhador congolês que trabalhava num quiosque no Rio de Janeiro foi espancado até a morte quando reivindicava receber o que patrão lhe devia. Em maio de 2022, Genivaldo de Jesus Santos, um trabalhador negro de 38 anos foi morto asfixiado por gás lacrimogênio preso numa viatura da Polícia Rodoviária Federal, seu crime? Um trabalhador negro, que tentava mostrar uma receita médica enquanto os policiais o agrediam.
E o que falar de tantas crianças e jovens negros alvejados nas periferias das cidades, principalmente no Rio de Janeiro pelas balas da repressão do Estado de que perdidas nada tem?
Não tem esquecimento nem perdão: Não esqueceremos de Miguel, o pequeno menino negro de 5 anos que foi morto em 2020 ao cair de um edifício em Recife/PE porque a patroa de sua mãe não cuidou dele, enquanto a mãe cumpria entre suas muitas tarefas levar os cachorros dos patrões para passear.
O racismo que fere e mata trabalhadores, crianças e jovens negros foi potencializado pelo governo genocida de Bolsonaro, derrotá-lo foi um passo importante de nossa luta, mas é preciso avançar na luta do conjunto da classe trabalhadora contra todas as formas de opressão que o capitalismo se utiliza para aumentar sua exploração.
Nesse 20 de novembro ocupamos as ruas do país mostrando que é preciso avançar na consciência sobre a tarefa do conjunto da classe trabalhadora na luta antirracista
É preciso avançar na consciência da importância das trabalhadoras e trabalhadores negros na luta de classes no Brasil e no mundo. Precisamos ter consciência de como o capitalismo transforma diferenças em desigualdades com o objetivo de potencializar seus lucros e exploração.
Precisamos avançar na consciência de que o racismo é uma ferramenta de poder da burguesia imposta à classe trabalhadora. E sobretudo, é preciso avançar na consciência de que só a luta unitária e independente da classe trabalhadora é capaz de aniquilar o capitalismo e o racismo.
PELO FIM DO GENOCÍDIO DAS TRABALHADORAS E TRABALHADORES NEGROS.
PELA REVOGAÇÃO DAS REFORMAS QUE RETIRARAM DIREITOS E PIORAM AS CONDIÇÕES DE TRABALHO E VIDA DO CONJUNTO DA CLASSE TRABALHADORA.
AVANÇAR NA LUTA PELO FIM DO CAPITALISMO E PELA CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO.